Título: Fatores estruturais favorecem alta do mercado de trabalho
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2010, Economia, p. B6

Novas tecnologias e aumento do emprego público colaboram para o bom momento da economia do País

- O Estado de S.Paulo

O bom momento do mercado de trabalho é resultado em grande parte de fatores estruturais, apontam especialistas. O professor de economia da PUC-Rio José Márcio Camargo lembra que, com a abertura da economia no início dos anos 90, setores pouco competitivos abriram espaço para a adoção de novas tecnologias, que exigiam mão de obra mais especializada, o que gerou desemprego estrutural.

Ele cita o exemplo da indústria metalúrgica paulista. "Na década de 90, a tecnologia de torno mecânico foi substituída pela de tornos digitais. Com isso, os trabalhadores ficaram obsoletos", exemplifica. "Isso acaba gerando uma taxa de desemprego estrutural mais alta, que é difícil de combater. À medida que o tempo vai passando, esses trabalhadores se aposentam. Uma parte da queda da taxa de desemprego hoje tem a ver com isso", diz.

Para o professor Daniel Domingues dos Santos, do Ibmec-Rio, este ano as taxas de desemprego foram empurradas para baixo por dois elementos particulares. "Em ano de eleições, aumenta-se a produção como um todo, especialmente em setores altamente intensivos em trabalho", afirma. "Outra coisa é que, desde o ano passado, vem crescendo o emprego público", complementa.

As posições de destaque alcançadas pelas regiões metropolitanas do Sudeste e do Sul ante as do Nordeste também estão relacionadas com o alto número de pessoas atendidas pelos programas de transferência de renda do governo naquela região, na avaliação de Camargo. "Isso faz com que a taxa de desemprego dos grupos que recebem essa transferência cresça, aumentando o salário que o trabalhador demanda para aceitar o emprego", afirma.

A situação do emprego também é influenciada pela injeção de recursos públicos em grandes obras, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as previstas para a Copa do Mundo e a Olimpíada. A especialista em emprego da OIT no Brasil, Janine Berg, defende esse tipo de gastos. "Ao se fazer investimentos públicos, abre-se mais espaço para o setor privado trabalhar e mais oportunidades para as empresas brasileiras, não só aqui, mas no exterior, a partir de uma infraestrutura mais adequada para exportação", diz.

Janine afirma que os cortes dos gastos públicos que estão sendo feitos nos países europeus em crise e nos Estados Unidos são preocupantes. "No início da crise, havia um esforço dos países de usar a política fiscal para mitigar seus efeitos. Agora, tem-se a reação contrária, com países cortando gastos preocupados com dívidas e déficits", comenta. "Nesse momento em que o setor público não está investindo, a única solução é o setor privado investir", diz.