Título: Para a CNI, medidas vão reduzir ritmo da indústria
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2010, Economia, p. B6

Pacote reforça tendência de redução no ritmo de crescimento da indústria; em outubro, o faturamento caiu 0,7%

As medidas de restrição ao crédito de longo prazo anunciadas na sexta-feira pelo Banco Central e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) devem diminuir o fôlego de expansão da atividade industrial nos próximos meses, na avaliação do gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

Somado ao impacto potencial das medidas, o ritmo de crescimento da produção industrial no segundo semestre de 2010 tem sido bastante diferente do que predominou entre o fim de 2009 e o início deste ano.

Os Indicadores Industriais de outubro, divulgados ontem pela CNI, mostraram queda de 0,7% no faturamento ante setembro.

"A redução da disponibilidade de recursos para financiamentos para famílias tem impacto sobre a demanda, portanto, qualquer restrição monetária vai causar arrefecimento no nível de expansão da produção", afirmou o economista.

Segundo ele, além do aumento dos depósitos compulsórios e do capital exigido para financiamentos acima de 24 meses, as alterações na regulação dos cartões de crédito anunciada há quase duas semanas, inclusive com o aumento da parcela mínima para pagamento mensal, também encarecerão o crédito rotativo para consumo.

"O conjunto de medidas adotadas nas últimas semanas vai terminar levando a um aumento nas taxas de juros dos empréstimos bancários. Com certeza, os bens de consumo duráveis são mais sensíveis a essa elevação, mas a reorganização dos orçamentos domésticos também deve impactar produtos mais baratos, de uso contínuo, que geralmente são pagos à vista", completou Castelo Branco.

Para ele, as alterações regulatórias são "um claro sinal" de que 2011 trará um novo ciclo de aperto monetário, com novas altas na taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano. "Usualmente BC primeiro usa sinalizações dessa ordem, para depois aumentar juros", afirmou, ressaltando que as menores empresas devem ser as mais afetadas. "O crédito vai faltar primeiro para as pequenas empresas, que são mais dependentes e frágeis. Em geral, os menores são mais endividados", acrescentou.