Título: Equipe de transição quer ''nome de mercado'' em diretoria do BC
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2010, Economia, p. B6

Hoje, as sete diretorias do BC são ocupadas por funcionários do próprio banco, do BB ou do governo federal

Todos afirmam que é cedo para colocar nomes sobre a mesa, mas cresce a avaliação na equipe de transição de Dilma Rousseff e dentro do próprio Banco Central de que "seria positivo" se o indicado para a presidência da instituição, Alexandre Tombini, levasse ao menos um nome forte do mercado financeiro para a diretoria do BC. A indicação levaria a "visão de mercado" à instituição. A sabatina de Tombini está prevista para hoje no Senado.

Atualmente, a diretoria do BC tem sete cadeiras. Seis são ocupadas por nomes da própria autoridade monetária ou vindos do governo federal - incluindo a importante diretoria de política econômica, sob responsabilidade de Carlos Hamilton Araujo, engenheiro que trabalha desde 2000 no BC. O sétimo posto é a não menos relevante diretoria de política monetária, ocupada por Aldo Luiz Mendes vindo do Banco do Brasil.

Quando houve a formação desse time ao longo do último ano, muitos analistas torceram o nariz ao se deparar com nomes distantes de conhecidos do mercado, como os ex-diretores Mário Mesquita e Mário Torós, que foram substituídos, respectivamente, por Carlos Hamilton e Aldo. Mas, como a gestão de Henrique Meirelles já se encaminhava para o último ano, o perfil "técnico e da casa" foi absorvido sem grandes implicações.

Aflições. A equipe de transição cita que seria "positivo" se Tombini tivesse ao seu lado um nome reconhecido pelo mercado. Ao agregar um diretor com esse perfil, seria alterada característica observada ao longo de 2009, quando a diretoria passou a ter nomes exclusivamente vindos do BC, governo ou estatais.

Não que haja o entendimento de que os atuais diretores sejam despreparados. Muito ao contrário, já que uma das peças chave desse relacionamento "mercado x BC", que é Carlos Hamilton Araújo, tem surpreendido positivamente muitos economistas pelo profundo conhecimento dos temas relativos ao BC - assunto ouvido, inclusive, em conversas de economistas em São Paulo e Rio. Economistas também elogiam Aldo, mais próximo do mercado pela carreira no BB.

Mas as pessoas que acompanham o tema acham que um diretor de mercado conseguiria, em última instância, entender as preocupações e a forma de pensar e agir dos investidores e gestores. "É diferente de se ter um diretor que conversa com o mercado. Estamos falando de alguém que conversa com o mercado e também entende as aflições de quem está do outro lado do balcão, sabe como é o traquejo dos analistas e, por isso, tem condição de reagir melhor", explica uma fonte que pediu para não ser identificada.

Vagas. Para incorporar o nome de mercado, o BC de Tombini pode promover uma dança de cadeiras para acomodar o indicado ou mesmo reativar a diretoria de estudos especiais, que está vaga. Vale lembrar que Mário Mesquita ocupou a cadeira de estudos especiais por quase um ano antes de ser alçado à diretoria de política econômica.

Apesar do debate, uma pessoa próxima ao indicado diz não ter sinais de que Tombini tenha pressa para tocar o tema. Lembra, por exemplo, que Henrique Meirelles dirigiu as duas primeiras reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do governo Lula com toda a diretoria nomeada pelo antecessor, Armínio Fraga. Os primeiros nomes escolhidos pelo presidente só chegaram à diretoria na terceira reunião do Copom, em março. Mas isso não gerou nenhum problema, tanto que Meirelles e os diretores de Fraga optaram por manter a trajetória de alta do juro nas primeiras reuniões do Copom de 2003.