Título: Nas negociações, PLR vira item obrigatório
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2010, Economia, p. B10

Cada vez mais o tema é, ao lado do aumento real dos salários, um dos[br]principais itens da pauta nas conversas entre empresas e sindicatos

A conquista de parcelas cada vez maiores nos lucros e resultados (PLR) é hoje um dos principais itens da pauta das negociações entre empresas e sindicatos, ao lado do aumento real de salários. "A PLR virou item obrigatório de negociação", diz o professor Helio Zylberstajn, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Segundo ele, quanto mais se espalha pelo mercado, a PLR se torna cada vez menos uma participação e mais um complemento salarial. "É uma remuneração barata para as empresas, porque não incide encargo e nem adquire o caráter de habitualidade", afirma o professor. "Por isso, cresce tanto."

Mas não significa que a participação do trabalhador esteja vinculada a resultados, ressalta Zylberstajn. "A PLR acaba sendo um bônus, quase um 14.º salário. Tanto é verdade que, muitas vezes, a PLR é negociada nas convenções coletivas."

A lei, no entanto, permite à empresa decidir o valor que será repartido entre funcionários. A negociação é feita entre trabalhadores e companhia, com o aval de sindicatos, o que favorece as categorias mais organizadas.

"A filosofia da PLR é das mais sadias em termos de relações do trabalho", diz o professor José Pastore, da FEA-USP. "As duas partes estabelecem metas para resultados e lucros e passam a trabalhar para alcançar essas metas de forma convergente, o que é bom para a produtividade."

É com a negociação que teve aval do Sindicato dos Bancários que o escriturário do Banco do Brasil, Gabriel Moraes dos Santos, 36 anos, engordará sua renda em R$ 6,9 mil recebidos a título de PLR, dinheiro que usará para pagar parte de um imóvel.

Fontes. Pastore ressalva que, se a PLR for só uma espécie de 14.º salário desconectado de metas, a empresa pode tirar o dinheiro de duas fontes. "Ou sai do bolso do consumidor, passando para preço, ou do lucro, o que compromete investimentos futuros", diz. "Se houver metas, os recursos vão sair do ganho de produtividade, o que não afeta nem o consumidor nem os investimentos".

O fato é que o lucro das empresas brasileiras foi impulsionado pelo vigor do mercado doméstico. Levantamento da Economática mostra que o lucro líquido das companhias de capital aberto no terceiro trimestre superou em 48,5% o total apurado em igual período de 2009.