Título: Pacote reduz ritmo de vendas no Natal
Autor: Andrade, Renato; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2010, Economia, p. B1

Corte nos prazos dos financiamentos e alta dos juros vão ter impacto no consumo

O pacote de aperto de crédito baixado ontem pelo Banco Central (BC) reduz a velocidade de vendas no varejo no fim do ano, mas não chega a estragar o Natal. O maior efeito das restrições no bolso do consumidor, como a redução nos prazos de financiamento, elevação das taxas de juros, exigência de entrada na compra de veículos, deve ser sentido em janeiro, dizem representantes do comércio.

"As medidas não vão afetar muito o Natal", afirma o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti. Ele reviu de 12% para 11% a expectativa de crescimento de vendas para a data, depois que tomou conhecimento das medidas. Mesmo assim, se a previsão se confirmar, este será o melhor Natal dos últimos dez anos, com crescimento de dois dígitos. Burti reconhece que a "demanda estava aquecida acima das expectativas". Em novembro, por exemplo, as vendas do comércio cresceram 12,3% na comparação com o mesmo mês de 2009.

Um fator que pode retardar o impacto das restrições nas condições de financiamento do consumo de fim de ano é a forte concorrência entre as instituições financeiras. Procurados ontem pelo Estado, os bancos Bradesco e Santander e a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), por exemplo, não quiseram informar se alterariam as condições dos financiamentos.

Já o Itaú Unibanco comunicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "está ajustando a operação às novas medidas". A reportagem apurou que os bancos médios que financiam de veículos suspenderam ontem temporariamente as operações para avaliar o pacote.

"Num primeiro momento ninguém faz nada porque não quer perder mercado", afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. Além do impacto esperado nos juros, nos prazos e na entrada dos financiamentos, ele acredita que os bancos serão mais rigorosos na concessão de novos empréstimos.

"Talvez o Papai Noel não venha com um saco tão cheio. O governo atingiu o seu objetivo de travar o mercado de crédito. O impacto maior nos financiamentos será em 2011", afirma Érico Sodré Quirino Ferreira, presidente da Acrefi, que reúne as financeiras.

Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, diz que o consumidor vai sentir mais o reflexo do aperto de crédito a partir da primeira semana de janeiro, quando as medidas completarão em mês em vigor. Antes disso, a concorrência entre os bancos e o grande volume de dinheiro em circulação no mercado, por causa da entrada do 13º, devem atenuar os efeitos.