Título: Juros de bancos devem subir, diz Febraban
Autor: Andrade, Renato; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2010, Economia, p. B1

Federação diz que as taxas vão aumentar por causa da elevação dos custos, mas os ganhos dos bancos com os financiamentos continuarão os mesmos

O spread bruto dos bancos deverá ser elevado como consequência dos efeitos das medidas macroprudenciais anunciadas ontem, afirmou à " Agência Estado" o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg. Na prática, isso terá impacto direto no bolso do consumidor, que pagará mais caro pelos empréstimos.

"As mudanças implicam piora nas condições de crédito no curto prazo. Além de impor cautela maior na oferta de crédito, os juros ficarão mais altos", diz o economista. Ele explica, entretanto, que o aumento do spread bruto - a diferença entre o custo de captação e a despesa com juros - não representará aumento do lucro dos bancos.

"Dentro do spread bruto há os custos de captação, impostos, entre outros." Nesse sentido, avalia Sardenberg, as medidas se mostram ineficientes porque contribuem para elevar o spread bruto, mas não necessariamente elevam o spread líquido. Para ele, se houvesse aumento da Selic, os resultados seriam mais visíveis. "O custo de captação e o spread bruto subiriam, mas o spread líquido também", afirma.

O economista lembra que antes destas medidas, para cada R$ 100 captados, os bancos não podiam emprestar R$ 23. Com o aumento dos compulsórios esta exigência subiu para R$ 32. "Agora, os bancos só podem usar R$ 68. Isso, na prática, eleva o custo de captação porque tenho a mesma estrutura para captar, mas com maior custo", reclama o economista-chefe da Febraban.

Sardenberg concorda com avaliação feita pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, por ocasião da primeira elevação do compulsório, no começo do ano, de que medidas desta natureza são um substituto imperfeito do aumento dos juros. Isso porque, de acordo com o economista da Febraban, os resultados não são tão potentes quanto os de um aperto monetário clássico, de alta de juros, que leva ao deslocamento de toda a curva.

Apesar de demorar de seis a nove meses para fazer efeito, a elevação da Selic produz um resultado mais forte e mais transparente. Sardenberg vê um componente de longo prazo embutido nas medidas. "Por isso elas são chamadas de medidas prudenciais."

A ideia por trás das medidas, segundo ele, é conter a expansão do crédito sem ter de recorrer a aumento de juros.

Mas ele reconhece, que, reservadas as devidas proporções, as medidas terão impacto semelhante à de uma alta de juros no curto prazo. /COLABOROU RENÉE PEREIRA