Título: Apesar das medidas, BC deve subir taxa Selic
Autor: Andrade, Renato; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2010, Economia, p. B1

Especialistas dizem que as medidas de ontem são o início de um ciclo de aperto monetário e que a alta dos juros deve começar em janeiro ou fevereiro

O pacote de medidas anunciado ontem pelo Banco Central (BC) foi entendido pelo mercado financeiro como o início de um novo ciclo de aperto monetário na economia.

O aumento do compulsório deverá ser a primeira medida para reverter o quadro de deterioração dos índices inflacionários e complementará o processo de alta da taxa Selic. Mas, ao contrário das expectativas anteriores de aumento em dezembro, agora o mercado aposta em janeiro ou fevereiro.

"Com as medidas, o mercado reduziu as taxas de juros no curto prazo e elevou as de longo prazo. Ou seja, estão apostando na retomada da alta dos juros", explica o economista da Opus Investimentos, José Marcio Camargo, que considerou corretas as medidas adotadas pelo BC.

"Acho que foi importante. A demanda está crescendo muito forte em relação à oferta. Além disso, está complicado reduzir a taxa de inflação para a meta." Na opinião dele, o Banco Central precisa retomar o controle das expectativas, que nos últimos meses fugiram ao seu comando.

A equipe econômica do Itaú Unibanco também entendeu que as mudanças reduziram qualquer "senso de urgência que o BC poderia ter" de aumentar dos juros na semana que vem. "Parece mais provável que a autoridade monetária siga o ritual: sinalizar agora, subir em janeiro", destaca a equipe, comandada por Ilan Goldfajn.

No Bradesco, o economista Octavio de Barros acredita que as medidas podem equivaler a até 1 ponto porcentual de aumento de juros. "Caso medidas de impacto na área fiscal também sejam apresentadas nos próximos dias, o mercado poderá reavaliar a trajetória dos juros nas próximas reuniões do BC." O Bradesco mantém a projeção de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em dezembro e janeiro em 10,75%. A posição, diz Barros, está condicionada aos sinais de esforço fiscal, à melhora das expectativas e dos dados correntes, além de um cenário econômico mantendo-se muito ruim na Europa e com sinais inconclusivos nos Estados Unidos.

Para o economista, o pacote para restringir a oferta de crédito foi "corretíssimo". Mas ele ainda acha cedo revisar as projeções de expansão do crédito em 2011. "Precisamos aguardar alguns dias para ter uma melhor dimensão do alcance das medidas." Mesma opinião tem o economista da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.

Na última pesquisa, a previsão para expansão do crédito em 2011 era de 18,5%. Mas esse número deverá ser reduzido, diz ele. "Tenho a impressão que as expectativa serão mais conservadoras. Afinal, as medidas vão impor cautela maior na oferta de crédito, que ficará mais caro." Ele pondera, entretanto, que algumas linhas de crédito, como o imobiliários e modalidade com recursos direcionados, não foram restringidas e estão em ritmo bastante acelerado.