Título: ''Usar compulsório como ação de política monetária é obsoleto, démodé''
Autor: Andrade, Renato; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2010, Economia, p. B1

O economista e sócio da MCM Consultores, José Julio Senna, ex-diretor do Banco Central, criticou a decisão da autoridade monetária de usar o compulsório como uma ação de política monetária.

Na avaliação dele, esse instrumento está obsoleto, fora de moda em todos os países relevantes do mundo.

Como o sr. avalia as medidas adotadas pelo governo?

Primeiro temos de separar as medidas. A exigência de aumentar o capital que as instituições financeiras precisam manter em caixa para respaldar financiamentos de longo prazo é uma iniciativa correta. Temos de bater palma. Agora o aumento do compulsório é mais complicado. A interpretação cabível é de que essa elevação tem a intenção de postergar ou evitar uma alta da taxa Selic.

Há algum benefício nisso?

É um caminho mais tortuoso. Estão lançando mão de um instrumento fora de moda, obsoleto, démodé. Não se fala em compulsório em nenhum país relevante do mundo, a não ser na China, onde se tabela as taxas de empréstimos e os juros nominais estão abaixo da inflação. Se foi colocado de lado pela maioria é porque há alguma razão. Quando você mexe com compulsório bancário você encarece e dificulta o empréstimo. Mas seu efeito é localizado, vai coibir apenas a demanda por alguns bens, aqueles que dependem de crédito.

O aumento dos juros não tem o mesmo efeito?

Os juros fazem isso e muito mais. Têm um efeito mais amplo. Uma mexida na Selic influencia decisões de alocação de poupança, tende a coibir consumo por elevar seu custo. O aumento dos juros pega todos os segmentos da sociedade. O compulsório mexe no comportamento de segmentos mais intensivos no uso de crédito. É menos impopular. Mas os efeitos não são pequenos, eleva o spread bancário. É uma medida na direção errada que contribui para a ineficiência do sistema financeiro.

O BC demorou para tomar alguma decisão?

Talvez fosse o caso de não ter interrompido o ciclo de alta dos juros em setembro. A questão das eleições é uma hipótese que pode ser considerada. Na época houve uma desconfiança.