Título: Para Amorim, abrigo ''não era conveniente''
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2010, Internacional, p. A32
Chanceler diz que vetou pessoalmente abrigo a acusados de terrorismo mantidos na [br]base de Guantánamo
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou ontem que o Brasil foi sondado pelo governo dos EUA para receber presos que estavam na base americana de Guantánamo, em Cuba, sob acusação de terrorismo. A informação sobre as discussões entre Washington e Brasília está entre os 250 mil despachos diplomáticos que vêm sendo revelados pelo WikiLeaks desde domingo.
O ministro não soube precisar quando exatamente a sondagem foi feita. Mas disse ter ordenado a recusa do pedido. "Lembro-me de terem me consultado e eu ter achado que não era conveniente. O mais normal seria, se são inocentes, encontrarem de volta seu caminho na vida", disse o ministro em evento no Palácio Itamaraty, no Rio.
Amorim disse não ter lido atentamente os jornais sobre as ações do WikiLeaks e minimizou o impacto das revelações para a diplomacia mundial. "Vamos ser francos: ali não tem nada "top secret" (ultrassecreto). Tem muita coisa que a gente já sabia ou são interpretações subjetivas de agentes diplomáticos que valem pelo que são", disse o chanceler.
Honduras. Amorim disse que as correspondências não revelam, por exemplo, planos estratégicos dos EUA para o Iraque e Afeganistão, onde há tropas americanas em combate. O ministro ressaltou, no entanto, ter gostado de saber da correspondência da embaixada americana em Honduras. O documento, de julho de 2009, analisa a queda do presidente Manuel Zelaya e conclui que houve golpe de Estado.
Por fim, Amorim afirmou que a interpretação dos diplomatas americanos sobre uma suposta posição antiamericana do Itamaraty não é uma novidade e não tem relação direta com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Amorim, a chancelaria é tradicionalmente vista por Washington com desconfiança. / ALEXANDRE RODRIGUES