Título: 40% dos alunos brasileiros repetem ao menos uma vez
Autor: Paraguassú, Lisandra ; Mandelli, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2010, Vida, p. A17

País só fica à frente de Tunísia e Macau nesse quesito; especialistas recomendam motivação extra para os repetentes

Cerca de 40,1% dos alunos brasileiros repetem ao menos uma série durante a escolaridade básica. O índice do Brasil só é menor que o da Tunísia, que tem 43,2%, e o de Macau, o primeiro lugar, com 43,7%.

A repetência de séries é um dos maiores problemas do sistema educacional dos países mais pobres, como é o caso do Brasil. Entre os países mais ricos, é muito raro utilizar a repetência como mecanismo do sistema de ensino. É o caso do Japão, Coreia e Noruega, onde essa mesma taxa é de 0% - ou seja, não há alunos repetindo séries.

No Brasil, a questão é complicada porque há dois tipos de sistema: o seriado e o de ciclos, este também conhecido como progressão continuada. No primeiro, existe uma idade teórica adequada a cada série. Ou seja: o currículo é organizado de modo que disciplinas devem ser cumpridas em um certo período de tempo - denominado série.

Na progressão continuada, não há repetência ano a ano. Os ciclos substituem as séries tradicionais e o aluno só pode ser reprovado ao fim de duas, três ou quatro séries. No ensino fundamental, há dois ciclos - 1.º a 5.º ano e 6.º ao 9.º - e a reprovação só ocorre ao fim dessas etapas. O sistema está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

A introdução dos ciclos no ensino fundamental dividiu especialistas: alguns enxergavam como uma tentativa de mascarar o problema da repetência, já que não retém as crianças, mesmo que elas não aprendam nada; outros, como um avanço para garantir a permanência e o aprendizado dos alunos.

Motivação. Para os especialistas, a alta taxa de repetência do Brasil mostra as deficiências do sistema. "A solução é evitar a reprovação e aumentar o acompanhamento desse aluno que já repetiu, porque ele necessita um tratamento diferenciado. Caso contrário, fica ainda mais desmotivado", diz Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. "Não há ganhos para o aluno que reprova. Cada escola deveria acompanhar de perto os estudantes que estão nesse limite."

Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, destaca que a política de ciclos deveria ser reforçada, focando no aprendizado dos alunos. "Hoje, a única vantagem da progressão continuada é que ela é menos traumatizante que a repetência. Ela é uma espécie de "atalho" para tentar resolver um problema grande", opina. "Deveríamos investir numa boa política de ciclos, com perspectiva de recuperação do aluno e com o foco no aprendizado", acrescenta Cara.