Título: Tombini é contra expurgo de preços
Autor: Graner, Fabio; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2010, Economia, p. B3

De 27 países que adotam metas de inflação, diz Tombini, só a Tailândia persegue alvo definido pelo núcleo do índice de preços oficial

O uso de um índice de preços desidratado para balizar o sistema de metas de inflação não conta com o apoio do escolhido pela presidente eleita Dilma Rousseff para ocupar a presidência do Banco Central, Alexandre Tombini. Há duas semanas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu a criação de um índice que exclui os preços de alimentos e combustíveis.

O debate, no entanto, acabou abafado pelo próprio ministério pela repercussão negativa do tema. Tombini prefere trabalhar com um horizonte mais amplo e mostrou simpatia pela redução da meta de inflação no Brasil para um patamar mais próximo do visto nos demais países emergentes.

Em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Tombini disse que, de 27 países que operam com metas, apenas um BC, o da Tailândia, persegue um alvo definido pelo núcleo do índice de preço - que exclui alguns itens do cálculo - e que os demais, pela facilidade de comunicação, preferem trabalhar com um índice cheio.

Um dos formuladores do sistema de metas no Brasil, Tombini destacou que o regime de metas no Brasil tem como uma de suas vantagens ser de fácil entendimento e acompanhamento pela população, dando a entender que o uso do núcleo traria uma indesejável complexidade ao sistema.

Espaço. O diretor do BC defendeu o regime de metas, mas ele reconhece que há espaço para reduzir a meta, atualmente de 4,5% ao ano. Para ele, há necessidade de se consolidar o controle da inflação. "Conseguimos nos últimos anos trazer a inflação para um nível baixo e estável. Precisamos, agora, consolidar e aprofundar essa conquista", argumentou.

Na Colômbia, o Banco Central persegue uma meta entre 2% e 4%, com centro de 3%.Ou seja, o máximo de inflação tolerada pelos colombianos é inferior ao objetivo central perseguido atualmente no Brasil - um índice de 4,5%.

"O sistema de metas de inflação é sem dúvida alguma o instrumento mais adequado para o cumprimento da missão de assegurar a estabilidade do poder de compra da nossa moeda", disse. Segundo ele, o regime tem obtido sucesso inquestionável no processo de coordenação das expectativas. "E tem feito isso com flexibilidade, absorvendo choques econômicos diversos, ao menor custo para a sociedade".

Tombini disse ainda que o sistema de metas é um dos pilares fundamentais do tripé macroeconômico, composto ainda por câmbio flutuante e pela geração de superávits primários. "Essa política macroeconômica foi rigorosamente testada na crise financeira de 2008, que assolou as principais economias mundiais", disse.

O diretor do BC destacou os avanços da economia brasileira nos últimos anos - como a conquista do grau de investimento, a posição credora em dólar, a "consolidação" fiscal e o alcance das metas de inflação -, que, segundo ele, têm levado à redução dos juros reais no País ao longo do tempo. Para Tombini, esse processo não está esgotado. Mas, como era o primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Tombini fez questão de deixar claro que não estava falando de uma questão conjuntural, mas sim de uma tendência estrutural. "É natural esperar que os juros reais no futuro sejam menores do que são hoje", disse.

Além do tripé macroeconômico, Tombini salientou a importância