Título: IPCA de novembro não surpreende os analistas
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2010, Economia, p. B1

Não chega a ser uma boa notícia, apenas que os analistas erraram menos do que em outubro, e um pouco para cima. A variação mensal de 0,83% é a maior desde abril de 2005. O destaque, novamente, foram os alimentos: a alta em outubro tinha sido de 1,89% e passou a 2,22%, explicando 0,51 ponto porcentual da inflação de 0,83.

Isto é, os demais itens do índice explicam 0,32 ponto, mesmo nível de outubro. No grupo Alimentação, o grande vilão em outubro foram as carnes, que subiram mais de 10%. No mês passado, a maior alta havia sido nos cereais/legumes/oleaginosas (em torno de 8%).

Neste ano, as pressões de preços estão generalizadas, mas os destaques de alta (acima de 20%) são carnes e cereais/legumes/oleaginosas.

Outro grupo de preços que está bem pressionado no IPCA é o de serviços. A sua taxa de variação mensal caiu entre outubro (0,49%) e novembro (0,46%), porém mesmo assim a variação acumulada em 12 meses aumentou (de 7,15% para 7,38%). São os preços mais suscetíveis à indexação e à baixa concorrência,

O IPCA de novembro pode ter vindo abaixo das expectativas de mercado, porém mesmo assim mostra aceleração da inflação no final de 2010. Os aumentos nas taxas de inflação estão ocorrendo em diversos grupos de preços, com destaque para Alimentação e Serviços.

O único grupo de preços cuja variação ainda está caindo em 12 meses é o de administrados, porém isso não deve se repetir em 2011 (nem no fim nem no começo do ano, em que deve ocorrer reajuste de tarifas de transporte urbano). Os preços dos bens industrializados, disciplinados pelas importações baratas com taxa de câmbio favorável, também ajudam a segurar o IPCA.

Os núcleos do IPCA aceleraram ainda mais em novembro e já se aproximam de 5,5% no acumulado em 12 meses. O índice de difusão continua a aumentar, indicando que a aceleração no IPCA está mais generalizada. Desde setembro que o índice de difusão está acima da média histórica calculada desde 2004.

Mesmo que a inflação tenha vindo abaixo do esperado, ela ainda está muito pressionada neste fim de ano de 2010 e deve permanecer pressionada no começo de 2011.

É ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO FATOR