Título: Inflação sobe 0,83% em novembro, na maior alta des
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2010, Economia, p. B1
Os preços dos alimentos voltaram a apresentar forte alta e responderam por 60% do aumento do índice oficial de inflação (IPCA)
A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,83% em novembro. É o maior resultado apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em mais de cinco anos.
Em outubro, o índice havia subido 0,75%. E, em novembro de 2009, a alta havia sido de 0,41%.
Com os dados divulgados ontem, o resultado acumulado do IPCA em 2010 chegou a 5,25%, ultrapassando o centro da meta da inflação, estabelecida pelo Banco Central, de 4,5%.
Mais uma vez, a alta da inflação foi puxada pelos alimentos. Só o grupo dos alimentos contribuiu com 60% da variação do índice. Os alimentos subiram 2,22% em novembro, o maior aumento em oito anos.
O resultado, marcado por recordes, aponta também que o IPCA de novembro é o maior para o mês desde 2002. Para a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, os impactos de alta no índice estão sendo impulsionados pelos problemas climáticos que afetaram a safra de alguns produtos agrícolas no Brasil e no mundo.
Também contribuíram para a elevação de preços o aumento da demanda externa e no mercado doméstico, neste caso sob influência do aumento da renda dos trabalhadores.
O item carnes, vilão da inflação no mês e no acumulado do ano, subiu 10,67% em novembro e contribuiu, sozinho, com 0,25 ponto porcentual, ou cerca de 30% do IPCA do mês.
Segundo Eulina, os preços das carnes estão sendo puxados para cima pela entressafra da carne bovina e o aumento da demanda no Brasil e no mundo.
Ela exemplificou que, na região metropolitana de São Paulo, 2009 o quilo da alcatra custava R$ 15,41 em dezembro de 2010. Em novembro deste ano, chegou a R$ 19,88. Já o quilo do acém passou de R$ 8,64 para R$ 11,13 .
Eulina explicou que, enquanto em 2009 os alimentos, com variação anual acumulada de 3,18%, contribuíram para controlar o IPCA, em 2010 esses produtos, com alta acumulada de 8,95% de janeiro a novembro, representam a principal pressão sobre o índice.
Ranking. Os dados acumulados do IPCA de janeiro a novembro mostram que apenas 39 itens responderam por cerca de 90% da alta acumulada pelo IPCA no período. No topo da lista de contribuições figuram alimentos e serviços, como carnes (alta acumulada de 26,79%), empregado doméstico (11,02%), refeição (8,47%), colégios (6,64%), ônibus urbano (7,47%) e plano de saúde (6,24%).
Dezembro. Para dezembro, os especialistas esperam que a inflação volte a patamares mais comportados. Apesar de não trabalhar com projeções, Eulina disse que não há pressões de produtos administrados conhecidas para dezembro, que deverá refletir exclusivamente o desempenho dos alimentos.
O economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, disse esperar uma desaceleração na inflação em dezembro, para um resultado em torno de 0,60%. A perda de ritmo, segundo ele, refletirá reajustes mais brandos nos alimentos.
"O preço dos cereais está sob controle, feijão e arroz estão em queda, mas os grandes problemas são as carnes e açúcar. Mas, nos levantamentos de atacado, esses dois itens já mostram na ponta um comportamento mais estabilizado e devem ter em dezembro um nível de alta bem menor que o novembro", afirmou Campos Neto.
"Deveremos contar com uma alta da Alimentação menos intensa em dezembro e, consequentemente, a inflação como um todo em arrefecimento."
A economista do Itaú Unibanco Laura Haralyi também avaliou, em nota enviada aos clientes, que a pressão de alta dos preços dos alimentos deve recuar. Ela também prevê um resultado de 0,60% para o IPCA em dezembro. / COLABORARAM FLAVIO LEONEL E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS