Título: Ofertas de ações caem pela metade
Autor: Oscar, Naiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2010, Economia/2, p. B15

(IPOs), enquanto volume global deve bater recorde

No ano em que o mundo deve atingir um volume histórico de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, em inglês), o Brasil despencou no ranking dos mercados que mais levantaram capital por meio dessas operações. Em 2009, as ofertas chegaram a US$ 12,7 bilhões - valor que só ficou atrás da China e dos Estados Unidos. Em 2010, até agora, o volume caiu pela metade e outros cinco países passaram à frente do Brasil.

Para especialistas, a mega capitalização da Petrobrás, com captação de R$ 120 bilhões, os riscos de valorização cambial e, claro, a concorrência imbatível do mercado chinês podem ter diminuído o apetite dos investidores por ações de empresas brasileiras. Mas o ritmo neste fim de ano já começou a mudar e as perspectivas para 2011 são bem mais animadoras.

Estão em análise na Comissão de Valores Mobiliários cinco pedidos de ofertas iniciais. "Para o ano que vem, esperamos terminar o primeiro semestre com o total de IPOs de 2010 e chegar ao fim dos 12 meses com uma média de 30 ofertas", afirma Paulo Sérgio Dortas, sócio líder na área de IPOs da consultoria internacional Ernst & Young Terco, responsável pelo levantamento global.

Ontem, ele estava em Nova York, junto com representantes da BM&FBovespa, e um grupo de 30 empresas brasileiras de capital fechado, para se reunir com investidores e advogados. "É um roadshow reverso", explicou Dortas, fazendo uma referência às apresentações feitas pelas empresas de capital aberto aos investidores institucionais. Nessas reuniões, as empresas têm sido orientadas a se preparar melhor para a abertura de capital - detalhe que deixou a desejar em 2007 e colaborou com a enxurrada de IPOs registra naquele ano.

Recorde. Como o mercado está muito mais exigente, o recorde de operações de três anos atrás (foram 67) não deve se repetir tão cedo. "Boa parte daquelas empresas, hoje, falhariam", disse Dortas. "O que vamos conseguir bater é o volume levantado naquele ano porque as operações tendem a ser maiores." Em 2007, os IPOs levantaram R$ 55 bilhões.

Em outros mercados, aquele também foi o melhor ano da história, com uma arrecadação global de US$ 295 bilhões. Até novembro, deste ano já foram US$ 255,3 bilhões. Com as 82 ofertas em análise em todo o mundo e que devem ser finalizadas até o fim do ano, o volume ultrapassará os US$ 300 bilhões.

A China é a grande protagonista desse boom, concentrando dois terços das operações. O maior IPO já visto foi feito lá, em julho desse ano. O Agricultural Bank of China levantou US$ 22,1 bilhões. "Com a moeda chinesa desvalorizada, o investidor se sente muito mais confortável em direcionar o dinheiro para os IPOs da China do que para o Brasil", explica Ricardo Almeida professor do Insper.

No ano passado, o País foi o terceiro maior mercado de IPOs do mundo e agora vai encerrar 2010 com a sétima posição, atrás de China, Estados Unidos, Japão, Índia, Coreia do Sul e Malásia. Embora os números deste ano não tenham sido generosos com o mercado brasileiro de capitais, Dortas, da Ernst Young, faz uma leitura positiva do ranking: "os investidores estão de olho em mercados emergentes e o Brasil está nessa rota".

A diretora de Desenvolvimento de Empresas da BM&FBOVESPA, Cristiana Pereira, faz ainda um outro contraponto ao ranking global de IPOs. Ela ressalta que, se forem consideradas as outras ofertas (e não apenas as iniciais), a bolsa brasileira lidera com folga a lista dos mercados que mais levantaram recursos. As ofertas da Petrobrás e do Banco Brasil foram as grandes responsáveis por isso. "No ano que vem, sem essas mega operações devemos voltar ao nível de IPOs de outros anos", disse.