Título: Desafio é crescer menos
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2010, Economia, p. B8

Temos aí o PIB do terceiro trimestre, crescimento de 0,5%. É bom. Houve desaceleração sobre os 1,8% do período anterior. É bom, porque o desafio do Brasil no momento não é crescer mais, mas crescer menos, não acima do seu potencial, para evitar distorções que o IBGE revela na sua pesquisa. Estão aí as taxas inflacionárias que exigem taxas de juros elevadas, o déficit em conta corrente, o aumento das importações - porque estamos indo buscar no exterior o que não se produziu no País.

A manter esse ritmo, o PIB deve terminar o ano entre 7,5% e 8%. Não há o que assustar porque deve aumentar a tendência de desaceleração no primeiro semestre de 2010, com as medias do Banco Central e de reajuste fiscal reafirmados pela presidente e sua equipe econômica - a mesma da administração anterior. Um cenário que seria totalmente positivo não fosse o desequilíbrio entre o crescimento do PIB no setor financeiro e o recuo na indústria, na agropecuária e na construção civil.

Além disso, o consumo continua crescendo acima da produção e, em consequência, sinaliza para um déficit comercial nos próximos meses, o que somente será evitado se os preços das commodities, em alta, permanecerem nos níveis atuais. Um resultado discutível, diante das medidas já adotadas na China - nossa grande importadora - para desaquecer a economia.

Desafios. Inflação, ajuste fiscal, déficit em conta corrente são os principais desafios que assumem o poder em três semanas. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a desaceleração do ritmo de crescimento do terceiro trimestre deve ajudar. "A inflação em alta neste ano é fruto do descompasso entre a velocidade de recuperação da economia (mais consumo crescendo a 10%) e a capacidade da oferta, produção e investimentos." O ministro da Fazenda confirmou no fim de semana que anunciará no próximo dia 16 as medidas finais de estímulo ao investimento no setor privado, a serem postas em prática pelo próximo governo, concentradas em mais financiamentos privados e oficiais de longo prazo a juros favorecidos.

E o desafio do ajuste fiscal? Já as contas fiscais preocupam, por seu turno, apesar de preocupantes quanto a sua consistência no médio e longo prazo, não deverão estremecer as estratégias de política econômica do novo governo, pois, além de já terem sido anunciados cortes no orçamento, o vigor econômico deverá manter a trajetória galopante da arrecadação fiscal (isso, sem contar com novos impostos ou contribuições) e, com isso, as contas públicas deverão se equilibrar na corda bamba sem grandes percalços, afirma o economista da Austin Rating.

O difícil 8% . Para Alex Agostini, o Brasil vai encerrar o ano de 2010 com o maior nível de crescimento econômico das últimas duas décadas, com taxa ao redor de 7,5%. Para isso, será necessário apenas que o PIB tenha desempenho de 5% no último trimestre do ano quando confrontado com o mesmo período de 2009,o que é provável. Agostini acha difícil chegar aos 8% previstos pelo governo federal, pois o PIB teria de crescer 7% nos últimos três meses do ano. "Não é nenhum desatino, mas com baixa probabilidade de ocorrência, considerando-se que a taxa já está em desaceleração desde o segundo trimestre."

Mesmo assim, o País pode encerrar o ano como a 8.ª economia do mundo e já em 2011 deverá ultrapassar com facilidade a Itália e ocupar a 7.ª posição, refletindo tanto a debilidade do país europeu como a forte valorização do real que potencializa o PIB em dólares.

Década de ouro? O fato é que tivemos um ano bom, muito bom, apesar das distorções. Há desafios que estão sendo enfrentados no momento pela equipe econômica mantida pelo novo governo. Mudam as prioridades, mas não o que já se estava fazendo. O economista da Austin Rating está otimista. Termina a entrevista afirmando que "o Brasil está vivendo uma década de ouro".

A coluna não vai tão longe. Década de ouro não, meu caro Agostini. De prata talvez...