Título: Após 8 anos, Meirelles deixa o governo
Autor: Graner, Fabio ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2010, Economia, p. B1

Presidente do BC considera encerrada a ""missão na administração pública federal"" e anuncia que vai escrever um livro sobre os oito anos no banco

A três semanas de deixar o cargo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciou oficialmente ontem que não terá cargo no novo governo de Dilma Rousseff. Durante evento que marcou o início da circulação das novas cédulas de R$ 50 e R$ 100, afirmou que aquela era a hora certa para sair.

"Esse lançamento é o momento oportuno para que eu possa considerar encerrada minha missão na administração pública federal." Agora, Meirelles deve escrever um livro sobre os oito anos à frente do órgão e ainda retomar a presidência da Associação Viva o Centro, que cuida da região central de São Paulo.

"Sempre considerei a importância de se sair na hora certa. O momento certo de sair é quando tudo vai bem", disse à plateia ocupada apenas parcialmente por diretores e servidores públicos que trabalharam no desenvolvimento das novas cédulas. Após deixar o cargo, Meirelles cumprirá quarentena de quatro meses - 120 dias - até que possa retomar as atividades profissionais na iniciativa privada ou mesmo na ONG que cuida do centro paulistano.

Ao afirmar que deixa o cargo com a sensação de dever cumprido, ele agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o escolheu para o cargo após a vitória nas eleições de 2002. Meirelles, inclusive, é o mais longevo presidente do Banco Central da história brasileira: oito anos.

De todo o primeiro escalão que tomou posse com Lula em 1º de janeiro de 2003, apenas dois continuam: o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e Meirelles.

Mesmo fora do futuro governo, o presidente do Banco Central também agradeceu à presidente eleita, Dilma Rousseff, que indicou o atual diretor de Normas da instituição, Alexandre Tombini, para o substituir a partir de janeiro.

Despedida. Em tom de balanço e despedida, Meirelles afirmou que a atuação do BC nos últimos anos consolidou a estabilidade como um valor da sociedade brasileira, cujo simbolismo tem relevância semelhante a outros símbolos nacionais como a bandeira nacional. Por isso, era tão importante pela primeira vez em muitos anos trocar cédulas sem que houvesse zeros cortados ou mudança de moeda.

Ao tratar da inflação, disse que "não foi fácil" segurar os preços que subiam a uma taxa anualizada próxima de 30% no início do governo.

Para Meirelles, as novas cédulas coro

am o ganho de importância internacional da moeda brasileira nos últimos anos. "Considero este lançamento como uma síntese de nossa jornada na administração pública", disse Meirelles, ao lembrar que a moeda forte e estável permite que o real seja usado mais frequentemente nas transações comerciais e também como reserva de valor "dentro e fora do Brasil".