Título: IBGE refaz as contas e queda do PIB de 2009 vai a 0,6%
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2010, Economia, p. B3

O PIB brasileiro caiu mais do que se pensava em 2009, mas a recuperação foi mais forte no primeiro semestre de 2010. Segundo a revisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulga as Contas Nacionais, o recuo do PIB em 2009 foi de 0,6%, e não de 0,2%, como anteriormente divulgado.

No primeiro e segundo trimestres de 2010, o crescimento foi de respectivamente 9,3% e 9,2%, na comparação com mesmo período de 2009. Antes da revisão, aqueles números eram de 9% e 8,8%.

A revisão baseou-se em procedimentos de rotina na divulgação do PIB do terceiro trimestre. Houve a incorporação dos resultados anuais de 2008. Assim reestimou-se os quatro trimestres de 2009, com base no novo resultado do ano anterior, na inclusão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009 e em revisões de dados primários.

Além do procedimento rotineiro, houve atualização do ajuste sazonal, e mudanças na medição dos serviços financeiros e da "educação pública e mercantil".

A revisão levou alguns analistas a elevar a projeção de crescimento para 2010, por causa da base de comparação mais deprimida. Foi o caso, por exemplo, de Braulio Borges, economista-chefe da consultoria LCA. Em entrevista a Ricardo Leopoldo, da Agência Estado, ele disse que a estimativa da LCA para o crescimento do País em 2010 deve subir de 7,2% para perto de 7,6%.

Esse movimento, porém, não foi unânime. Sérgio Vale, da MB Associados, reviu de 7,7% para 7,3% a projeção para 2010. Em relatório distribuído ontem, o economista escreveu, para justificar aquela revisão, que "já se percebe nos dados do terceiro trimestre e nas primeiras indicações do quarto trimestre um início de processo de desaceleração da economia". Ele já acha que sua projeção de 4,5% para expansão do PIB em 2011 é "teto".

Vale considera, inclusive, que um aumento de 2 pontos porcentuais na Selic, a taxa básica de juros - como previsto por várias instituições do mercado - talvez não seja necessário em 2011: "Mantemos a aposta de alta de 0,5 ponto percentual (em janeiro), mas fica em aberto se de fato será necessário um aumento de 200 pontos (base, ou dois pontos porcentuais), dadas as medidas recentes e o que se fará na política fiscal".

Os tributos incidentes sobre a produção crescem mais que o valor agregado no processo produtivo, a essência do PIB, desde o último trimestre de 2009.

No terceiro trimestre de 2010, os impostos cresceram 12,1%, ante igual período de 2009 - expansão 80% acima do valor agregado. Nos 12 meses até setembro, os impostos tiveram expansão de 11,6%, 55% a mais do que alta de 7,5% no valor agregado no período.

Segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, a forte alta das importações é a principal responsável pelo crescimento dos impostos acima do valor agregado.

O valor do PIB no primeiro trimestre foi de R$ 937,2 bilhões. O País teve uma necessidade de financiamento (externo) de R$ 24,1 bilhões no período.