Título: O PIB do 3º trimestre é altamente desequilibrado
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2010, Economia, p. B3

- O Estado de S.Paulo

O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um crescimento de 0,5% no terceiro trimestre do ano, ante 1,8%, no segundo trimestre, e 2,3%, no primeiro. É uma desaceleração positiva, pois o ritmo do primeiro trimestre teria conduzido a pontos de estrangulamento favoráveis à inflação.

Isso dito, é necessário destacar alguns pontos negativos da evolução do PIB no terceiro trimestre, tanto em relação ao trimestre anterior quanto ao mesmo trimestre do ano passado. Na ótica da produção, houve redução de 1,5% na agropecuária, de 1,65% na indústria de transformação e de 2,3% na construção civil. Em compensação, o setor de intermediação financeira cresceu 3,1% e o de comércio, 1,4%.

Na ótica da demanda, tivemos uma elevação de 1,6% do consumo das famílias, ante 0,9% no segundo trimestre; de 3,95% na Formação Bruta de Capital Fixo, a FBCF (investimentos), ante 4,3% no segundo trimestre; de 2,4% das exportações (consequência do preço das commodities), ante 0,1%; e de 7,4% das importações, ante 5,9%. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, as importações aumentaram 40,9%.

O crescimento está desequilibrado. O consumo das famílias é positivo e o da indústria de transformação, negativo. A FBCF cresceu muito, chegando a 19,4% do PIB, ainda inferior à de 2008 (20,6% do PIB), enquanto a taxa de poupança ficou em 18,5% do PIB, o que leva a recorrer à importação e à poupança externa.

O consumo da administração pública não cresceu no terceiro trimestre, em relação ao segundo, mas foi 4,1% maior do que no mesmo trimestre do ano passado, o que levou a necessidade de financiamento do setor público a R$ 24,1 bilhões, ante R$ 12 bilhões no terceiro trimestre de 2009. Isso mostra que o governo deveria ter maior poupança para financiar seus investimentos.

Seria importante um crescimento menos ambicioso, mas mais equilibrado, no novo governo. Não pode continuar esse desequilíbrio entre a produção da indústria de transformação e o consumo das famílias, que conduz a um aumento das importações e contribui para o desequilíbrio das transações correntes, agravados pela infraestrutura antiquada que prejudica a capacidade de concorrência de nossa indústria em relação aos produtores estrangeiros.

Talvez se possa concluir que caberia conter o crescimento da demanda no que ele tem de artificial (excessivo aumento do crédito por exemplo), para propiciar uma formação de poupança à altura das necessidades de investimentos.