Título: Importados ''roubam'' três pontos do PIB
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2010, Economia, p. B3

Importações crescem 40% em um ano e provocam queda na produção industrial

A disparada das importações "roubou" três pontos porcentuais do PIB do terceiro trimestre. Se as compras externas tivessem se mantido no mesmo patamar do ano passado, o crescimento econômico no período, em relação ao terceiro trimestre de 2009, teria ficado em torno de 10%, bem acima do resultado de 6,7% apurado pelo IBGE.

O cálculo, feito pelo economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), leva em conta o crescimento da demanda interna, que bateu 10,1% no terceiro trimestre, na mesma base de comparação. A combinação da taxa de juros em nível relativamente baixo - para os padrões brasileiros - no último ano e meio, com uma política fiscal expansionista e uma capacidade ociosa no mundo, traz uma enxurrada de importados ao País.

"As exportações líquidas (exportações menos importações) contribuíram com 3,3 pontos porcentuais do resultado dessa demanda, que inclui o consumo das famílias, do governo e os investimentos, incluindo a variação de estoques da indústria", explica Levy.

Ele concorda que o câmbio é o principal fator a empurrar para cima as importações, mas não o único. Também pesam na equação o crescimento da demanda interna, que levou a indústria a operar a plena capacidade, e o ajuste dos estoques industriais.

"A demanda aquecida é, de um lado, positiva, porque reflete o aumento forte dos investimentos, mas o ideal seria que viesse acompanhada de uma expansão da demanda doméstica, que não está ocorrendo na mesma proporção", comenta Levy.

Recorde. O crescimento das importações de bens e serviços bateu recorde histórico no terceiro trimestre, com resultado de 40,9% superior ao mesmo período de 2009. O coordenador de contas nacionais do IBGE, Roberto Olinto, atribuiu o resultado à influência da variação do câmbio, que passou de R$ 1,87 no ano passado para R$ 1,75 no terceiro trimestre de 2010.

Já as exportações subiram 11,3% na mesma comparação. "É claramente um efeito do câmbio", disse, lembrando que a produção nacional não acompanha o ritmo de crescimento da demanda.

Pelos dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), em outubro a quantidade de empresas importadoras chegou a pouco mais de 36 mil, o dobro das 18,2 mil exportadoras. Até o fim do ano, segundo estimativas do vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, mais de 39.200 empresas vão integrar a pauta de vendedores para o mercado brasileiro.

"Isso é mais do que o recorde de importadoras registradas em 1997, ano em que o Brasil adotava a taxa de câmbio de um por um. Há cinco anos o número de empresas exportadoras vem caindo. Esse problema não é mais conjuntural, mas estrutural e a reversão não depende mais somente do câmbio."

Este ano, pelas projeções da AEB, o saldo da balança comercial vai fechar em US$ 16 bilhões, resultado das vendas de US$ 197 bilhões e das compras externas de US$ 181 bilhões. A disparada de preço das commodities, especialmente as agrícolas, como soja e açúcar, tem beneficiado o País, mas qualquer mudança nas cotações pode levar a um déficit na balança em 2011, diz Castro.

Não será fácil puxar o freio das importações. Pelos cálculos da AEB, apenas uma cotação do dólar acima de R$ 2 teria algum efeito imediato. "A faixa teria de se situar em torno de R$ 2,20. Mas, isso não quer dizer que estamos esperando que isso ocorra. A questão é que está mais fácil e mais barato importar. A estratégia de mercado da China é elevar as exportações e eles estão entrando em todos os setores."

De acordo com os dados do IBGE, os destaques na pauta de importações se referem a itens voltados à indústria, apesar de alguns produtos, como veículos e equipamentos eletrônicos, se destinarem diretamente ao consumidor. O País importa fortemente produtos siderúrgicos, têxteis, derivados de petróleo, plásticos, produtos químicos, borracha e máquinas e equipamentos industriais.