Título: Está nas mãos do governo
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/12/2010, Economia, p. B3

Há uma boa e uma má notícia no PIB relativo ao 3.º trimestre divulgado ontem. Do lado positivo, o País cresce mais próximo do seu potencial. Os dados mostram crescimento bem menor que aquele indicado no começo do ano. Com um ritmo mais suave, o crescimento se torna mais equilibrado ao adequar a expansão econômica à nossa capacidade efetiva de crescer.

Do lado negativo, no entanto, a adequação ao crescimento potencial vem sendo construída com o chamado vazamento externo. Como o País não consegue atender a toda demanda gerada pelo consumo das famílias, do governo e investimentos, somos obrigados a recorrer à produção global para evitar alta generalizada nos preços domésticos. Nessa situação, quem paga a conta é a indústria nacional: as precárias condições de produção, principalmente em infraestrutura, limitam a capacidade de se atender o mercado interno, o que implica maior competição com os importados.

Os números confirmam essa história. A absorção doméstica - consumo das famílias, gastos públicos e investimentos - cresce a um ritmo próximo a 10%, bem acima dos estimados 4% de PIB potencial. Ainda que o cálculo do PIB potencial seja algo abstrato, todos nós percebemos infinitos gargalos em nosso cotidiano: congestionamentos nas ruas e estradas, dificuldades de se contratar mão de obra qualificada e aeroportos lotados. As importações refletem o aquecimento local: o comércio externo serve como válvula de escape e rouba um crescimento de quase 3%.

Diante desse cenário, há duas alternativas óbvias. A primeira é moderar o crescimento no curto prazo. A hora é do famoso ajuste fiscal. Depois de um gigantesco salto nos gastos públicos nos últimos dois anos, com todo seu impacto expansionista sobre a atividade, chegou a hora de enfrentarmos a realidade. Não valem mais os discursos da crise global e muito menos o do ano eleitoral. Caso o governo não contribua para um menor crescimento, restará, como de hábito, o uso do outro instrumento disponível: a taxa de juros.

A segunda alternativa é estimular o crescimento de longo prazo. Mesmo neste caso, vale o ajuste fiscal como receita principal: menores gastos do governo abrem espaço tanto para maiores investimentos públicos quanto para uma menor carga tributária, o que estimula o investimento privado.

É ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO WESTLB