Título: A principal arma deles é o medo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2010, O Mundo, p. 30

BERLIM. Para o cientista político Herfried Münkler, da Universidade Humboldt de Berlim, os anarquistas por trás de tentativas de ataques são grupos pequenos, mas deverão fortalecer suas fileiras em 2011, quando em diversos países europeus deverão entrar em vigor medidas de cortes sociais para combater o déficit.

Os últimos atentados confirmam um fortalecimento dos grupos anarquistas na Europa?

HERFRIED MÜNKLER: Esses grupos de diversos tipos têm em comum atuar na mesma tradição do anarquismo que surgiu na Europa no final do século XIX. Eles são pequenos, mas a sua principal arma é o poder de causar medo e mostrar a vulnerabilidade psicológica da sociedade com os seus atentados. Eles já ficaram mais fortes com a crise do euro e as medidas de contenção de orçamentos e poderão ganhar ainda mais força em 2011, com mais adeptos e mais ações, quando deverão entrar em vigor em diversos países novas medidas de cortes sociais.

O senhor vê esses grupos, formados por pessoas jovens, como os sucessores da esquerda extrapartidária?

MÜNKLER: É verdade. São grupos da extrema-esquerda que expressam desespero por causa da fraqueza dos partidos socialistas e do movimento trabalhista. Eles não estão satisfeitos com os sindicatos, que deixaram de representar com vitalidade os interesses da classe trabalhadora. E escolhem a violência porque não veem chance de mudanças através do Parlamento. São organizações pequenas, clandestinas, mas que, com explosões, chamam atenção. Elas não têm ligação com o terror islâmico, mas vejo o perigo de esses grupos adotarem métodos dos islamistas, que conseguem com pouca gente causar danos significativos com atentados espetaculares.

Os anarquistas estão concentrados em Grécia, Espanha e Itália?

MÜNKLER: Há também na Alemanha, onde as ações têm sido mais brandas porque os problemas sociais e econômicos no país são menos graves do que na Espanha e na Grécia. Mas é possível que as atividades aumentem em países que sofrem menos da crise se houver uma contaminação do clima de insatisfação, como ocorreu nos anos 60, quando os protestos cresceram e tomaram conta da Europa e do mundo.