Título: Pressionado por alimentos e serviços, IPCA sobe 5,91% e é o maior em 6 anos
Autor: Saraiva, Alessandra ; Leonel, Flávio
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2011, Economia, p. B1

Índice que mede a inflação oficial do País ficou acima do centro da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5%, e da taxa do ano passado, de 4,31%

A inflação oficial do País atingiu em 2010 o nível mais alto em seis anos. É o que mostrou ontem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 5,91% no ano passado, acima do centro da meta estipulada pelo Banco Central (4,5%) e da taxa de 2009 (4,31%). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou ontem o indicador, os alimentos foram responsáveis por 40% do IPCA em 2010.

O indicador mostrou ainda uma persistência inflacionária no preço de serviços. Isso acendeu um sinal de alerta entre analistas, que veem com preocupação o cenário da inflação em 2011 e apostam em alta na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75%, na primeira reunião do ano do Conselho de Política Monetária (Copom), este mês.

O IPCA é o índice oficial utilizado pelo BC para cumprir o regime de metas de inflação, determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). De novembro para dezembro de 2010, a taxa recuou de 0,83% para 0,63%, por causa de uma menor pressão da inflação de alimentos e bebidas (de 2,22% para 1,32%). Mas o recuo não melhorou o humor do mercado financeiro. Para os analistas, há um movimento de inércia inflacionária que pode ajudar a elevar o IPCA em 2011.

Na prática, a continuidade no aquecimento do consumo do mercado interno deve elevar os preços não administrados este ano, como serviços de manicure, hotel e oficina mecânica. Além disso, não há como prever os preços dos alimentos, que podem continuar a subir em 2011.

Juros. Para o analista do banco Modal, Luiz Eduardo Portella, novos aumentos de juros serão necessários para ajudar a conter a demanda, além de medidas de ajuste fiscal. Ele comentou ainda que, caso a situação continue como está, é possível que o ano volte a terminar com o IPCA acima do centro da meta.

Na avaliação dos analistas da consultoria Tendências, Bernardo Wjuniski e Thiago Curado, a inflação de 2010 só não foi maior por causa do comportamento "excelente" dos preços administrados, como tarifas de telefone e de ônibus. Segundo especialistas, esse tipo de preço subiu apenas 3,13% no ano passado.

Para os analistas, isso foi resultado de um ano eleitoral, quando vários ajustes foram adiados. Por isso, os preços administrados podem subir mais este ano, na avaliação dos técnicos. Para o economista da M.Safra, Marcelo Fonseca, há risco de o IPCA não somente superar o centro da meta inflacionária, mas ficar acima do limite de tolerância de 2 pontos porcentuais em 2011.