Título: Desemprego cai a 9,4% nos EUA, mas preocupa governo
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2011, Economia, p. B6

Taxa é a menor desde maio de 2009, mas presidente do Fed faz um alerta para a ameaça à recuperação econômica do país

A taxa de desemprego nos Estados Unidos atingiu 9,4% em dezembro, o menor porcentual desde maio de 2009. Divulgado ontem pelo Departamento de Trabalho, o indicador não chegou a ser festejado pelo governo americano. O presidente do Conselho Econômico da Casa Branca, Austan Goolsbee, avaliou a taxa como "inaceitavelmente alta".

No Senado, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), assinalou a resistência ainda presente entre empregadores em contratar trabalhadores e a ameaça do desemprego alto na recuperação econômica do país.

"Apesar dos sinais esperançosos, com o crescimento da produção moderado nos próximos trimestres e a relutância dos empregadores em aumentar suas folhas de pagamento, será necessário um considerável período de tempo antes de a taxa de desemprego retornar a um nível mais normal", afirmou. "O desemprego persistentemente alto, reduzindo a renda familiar e a confiança, pode ameaçar a intensidade e a sustentabilidade da recuperação econômica", completou Bernanke.

Dados do Departamento de Trabalho apontam 14,5 milhões de desempregados. Em novembro, quando o desemprego atingiu 9,8%, eram 15,2 milhões. A queda no indicador foi resultado da criação de 113 mil vagas no setor privado e da redução da força de trabalho em 260 mil.

Esse impulso foi notado especialmente nos setores de hotelaria, educação e serviços de saúde. A indústria manufatureira contribuiu apenas com 10 mil postos abertos. Os governos estaduais e municipais fecharam 20 mil vagas e a construção civil, outras 16 mil. No cálculo, foram desconsiderados os 2,6 milhões de desempregados que não buscaram trabalho nas quatro semanas anteriores à pesquisa.

No ano, foi constatada a geração total de 1,3 milhão de postos de trabalho no setor privado, graças também à revisão, para cima, dos dados de novembro e de outubro. Segundo Goolsbee, esses ganhos se deveram a projetos do governo americano aprovados nos últimos meses pelo Congresso. Entre eles, a redução de tributos para a classe média e a prorrogação do seguro-desemprego.

Em uma fábrica de janelas em Maryland, o presidente dos EUA, Barack Obama, lembrou a perda de 8 milhões de postos de trabalho no primeiro ano da crise de 2008 - a pior recessão desde os anos 30. A criação de 1,3 milhão de vagas em 2010, segundo ele, é sinal de aumento do ritmo e do vigor do crescimento da economia. "Nossa missão é acelerar a contratação e o crescimento. Para isso, será preciso tornar a nossa economia mais competitiva, para gerar novos empregos e novas indústrias e treinar os trabalhadores."

Títulos. Na Comissão de Orçamento do Senado, Bernanke defendeu a adoção da política de compra de US$ 600 milhões em títulos do Tesouro americano ao longo deste semestre por seu potencial de impulsionar a economia americana. A medida foi duramente criticada pela Europa e pelos principais países emergentes, entre os quais o Brasil, por provocar desvalorização do dólar. O presidente do Federal Reserve também apelou aos senadores pela aprovação de um plano "crível" de redução do déficit fiscal, hoje em US$ 1,4 trilhão, e alertou para o risco de deflação.

"Inflação muito baixa aumenta o risco de um novo choque adverso empurrar a economia para a deflação", declarou. "É amplamente compreendido que o governo federal está em um caminho fiscal insustentável. Apesar disso, enquanto nação, temos feito pouco para solucionar essa ameaça crítica para a nossa economia. Fazer nada não é uma opção. Quanto mais esperarmos para agir, maiores serão os riscos e mais danosas serão as mudanças inevitáveis no orçamento."