Título: Líder é acusado de crime contra a humanidade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2011, Internacional, p. A9

Em 30 de junho de 1989, o sudanês Omar Hassan al-Bashir tomou o poder no Sudão depois de comandar um golpe militar que depôs o governo eleito democraticamente de Sadek el-Mahdi. Bashir sempre governou com mão de ferro. E sempre foi conhecido por resolver suas diferenças com violência - como a luta armada para reprimir os rebeldes de Darfur, iniciada em 2003.

Mas, após março de 2009, quando sua atuação neste conflito resultou em um mandado de prisão por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade expedido pelo Tribunal Penal Internacional, de Haia, Bashir tem mudado o tom. Na semana passada, durante visita ao sul do país, o presidente declarou que respeitará o resultado do referendo.

O mandado de prisão pode ser cumprido em qualquer país signatário do Estatuto de Roma, que estabelece as diretrizes do Tribunal de Haia. Mas Bashir não se furtou de viajar por nações que ratificaram o acordo internacional e teriam a obrigação de prendê-lo.

Em julho, o presidente esteve no Chade para um encontro da Comunidade dos Estados Sahelo-Saarianos (do norte da África). Em agosto, foi ao Quênia acompanhar a assinatura da nova Constituição do país. Ambos os países são signatários do Estatuto de Roma. Mas, apesar da pressão internacional, não detiveram Bashir. Os dois países também integram a União Africana, que já pediu a anulação do mandado de prisão.

Pouco se sabe a respeito da vida privada do presidente. Com 67 anos, ele não tem filhos, apesar de ser casado com duas mulheres. Normalmente trajando uniformes militares em suas aparições, Bashir mostra-se à vontade durante os inflamados discursos, em que costuma balançar sua bengala pelo ar. Chefe de Estado de formação militar, Bashir chegou a delegar o poder político duas vezes. Mas sempre permaneceu como figura predominante do governo sudanês.

Nos anos 90, foi a vez do líder xiita Hassan al-Turabi, que pregava um Estado muçulmano no Sudão e apresentou a proposta de introduzir a sharia (lei islâmica) em todas as províncias do país, exceto as do sul - medida que Bashir quer reforçar após o referendo.