Título: Restrição é ameaça à Cosan
Autor: Pacheco, Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2011, Economia, p. B10

O conflito entre os produtores de soja e de cana de Goiás ainda não chegou ao Ministério da Agricultura. Mas para Manoel Vicente Bertone, secretário de Produção e Agroenergia, é preciso que haja diálogo.

"Não é nosso objetivo colocar em risco a indústria de alimentos. Mas não dá para entender por que um município quer limitar a cana se está gerando receita. Só seria uma medida cabível se a cana colocasse em risco uma cadeia já estabelecida (no caso, da soja). Mas há terra para todos, mesmo porque uma usina não ocupa tanta terra assim", analisa Bertone.

Para o presidente da Cosan Açúcar e Etanol, Pedro Mizutani, iniciativas como a de Jataí preocupam. "Entendo que seja uma reação natural à chegada de uma nova cultura, mas limitar o plantio é inconstitucional. E essa história de que a cana vai virar monocultura na região não existe, é apenas mais uma alternativa. E onde fica a livre iniciativa? Temos projetos pré-aprovados em Paraúna e Montevidiu (ambas em Goiás). Agora precisamos ficar com o pé atrás, tomar cuidado. Esse tipo de movimento não incentiva que outras empresas invistam em Goiás", adverte Mizutani.

Rodrigo Aguiar, diretor de Relações com Investidores da Infinity Bioenergy (empresa que pertence ao grupo Bertin e tem uma usina em Mato Grosso do Sul), entende que haja resistência à cana nas áreas tradicionais de grãos. "Afinal, estão ocupando o lugar da cana. Mas a expansão será inevitável", lembra o executivo.

Presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg) e do Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar do Estado de Goiás (Sifaçucar), André Luis Rocha vai além na crítica: "Foi a indústria da cana que gerou mais emprego e trouxe mais benefícios para os municípios do Estado. Quem apoiou a construção do Senai recém-inaugurado em Mineiros e investiu em formação profissional foi a ETH, não as empresas que já estavam no município. Não há a menor possibilidade de ceder à pressão dos produtores de grãos ou das indústrias".

"As prefeituras que decidirem frear a expansão da cana vão ter de arcar com esse ônus e dar satisfação sobre o prejuízo que estão criando para os produtores que querem plantar cana e as pessoas que querem trabalhar", argumenta Gustavo Rattes de Castro, vice-presidente da Associação dos Produtores de Matéria-Prima para Bioenergia de Goiás. "O lobby pode ser grande, mas existe a questão da inconstitucionalidade de se proibir o plantio de uma cultura", explica João Sacomano, responsável pela implantação da Cosan em Jataí.

Para as empresas que apostam no Centro-Oeste, uma das estratégias é ter um bom relacionamento com a comunidade. É o caso da Cosan com programas de plantios de mudas, por exemplo, e da ETH, como conta Luiz Pereira de Araújo Filho, diretor de Pessoas e Sustentabilidade da ETH: "Desde o começo procuramos uma relacionamento estreito com a comunidade e mostrar os benefícios que a indústria poderia levar. A ponto de agora entregarmos um Senai para a cidade de Mineiros. É assim que queremos construir esse relacionamento".