Título: Oferta de crédito cresce 16,4% em 2010
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2011, Economia, p. B1

Consumidor de baixa renda foi principal responsável por aumento de empréstimos; para este ano, analistas não contam com alta tão expressiva

Nunca tantos brasileiros, especialmente os de baixa renda, procuraram crédito como em 2010. No ano passado, o número de consumidores que demandaram financiamentos cresceu 16,4% em relação a 2009, aponta o Indicador Serasa Experian da Demanda do Consumidor por Crédito. Foi a maior taxa de variação em três anos, revela o indicador, que considera os CPFs (Cadastro de Pessoa Física) consultados em todo o País.

Apesar de a série histórica do indicador - iniciada em 2008 - ser relativamente curta, o crescimento é expressivo porque ocorreu num período de forte oscilação da atividade econômica. Em 2008, o número de consumidores que procuraram financiamentos aumentou 6,4%. Com a crise financeira internacional, houve um recuo de 1,2% na demanda por crédito no ano seguinte. E, agora, a taxa de crescimento atingiu a casa de dois dígitos em 2010.

"Para este ano, a taxa de crescimento da demanda por crédito será menor", prevê o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida. Como os fatores que devem tirar o fôlego da procura por financiamentos ao consumo, ele aponta o próprio ritmo de crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB), que em 2010 deve ter girado em torno de 7,5% e para este ano deve crescer 4,5%.

Douglas Uemura, economista da LCA Consultores, lembra que as recentes medidas de aumento da fatia de depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central (BC) devem arrefecer a demanda por crédito. Além disso, a perspectiva de elevação da taxa básica de juros (Selic)na próximas reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC marcada para a próxima semana, reforça a tendência de que o crédito deve andar num ritmo menos acelerado comparado a períodos recentes.

"Vai ocorrer uma desaceleração, mas não se trata de um cavalo de pau", diz Uemura, fazendo referência à perspectiva do crédito para este ano. Ele argumenta que o mercado de trabalho deve continuar aquecido em 2011, com crescimento da massa salarial estimada pela consultoria em 4,2%. Além disso, a taxa média de desemprego projetada para 2011 deve ficar em 6,7%, repetindo o desempenho da de 2010.

Almeida, da Serasa Experian, pondera que, além da alta dos juros e das recentes medidas do BC, dois outros fatores deverão contribuir para tirar o ritmo do crédito este ano. O primeiro é o nível de endividamento que é crescente e atingiu em 2010 cerca de 40% da massa de salário e benefícios. Também os comprometimentos da renda do consumidor como pagamento de juros e amortização das dívidas aumentou nos últimos anos e gira em torno de 24%, observa.

Mais pobres. As maiores taxas de crescimento da procura por crédito registradas pela Serasa Experian no ano passado ocorreram nos extremos, isto é, entre os consumidores de baixa e alta renda. A demanda por crédito dos brasileiros que recebem até R$ 500 por mês aumentou 46,3% em 2010 na comparação com o ano anterior, seguido pelos que ganham entre R$ 5 mil e R$ 10 mil mensais (27,9%). Por região, o Nordeste, que tem uma grande população de baixa renda, foi o destaque com alta de 17,7% na procura por crédito, seguido pelo Sudeste (17,4%).