Título: Obama renova equipe em tentativa de recuperar terreno perdido em 2010
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2011, Internacional, p. A10

- Com foco em sua reeleição em 2012, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem a escolha de William Daley, um alto executivo do setor financeiro com larga experiência nos bastidores da política, para o posto de chefe de gabinete. A posição equivale no Brasil a ministro da Casa Civil e seu último titular foi o poderoso ex-deputado Rahm Emanuel.

Nesta primeira reforma no grupo de colaboradores mais próximos, Obama anunciará hoje Gene Sperling, conselheiro do Departamento do Tesouro, para a direção do Conselho Econômico Nacional, vaga deixada pelo economista Lawrence Summers, da Universidade de Harvard.

A reforma da equipe presidencial tem como objetivo reverter o ambiente político desfavorável, marcado pela derrota nas eleições legislativas de novembro e pelo consequente domínio republicano no Congresso. Inicialmente, saíram figuras centrais da campanha de 2008 de Obama e em seus dois anos de governo. Todos serão alocados em posições-chave na estratégia de reeleição em 2012. Entre eles, estão o atual conselheiro sênior de Obama, David Axelrod, o secretário de imprensa e porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, e Rahm Emanuel, candidato democrata à Prefeitura de Chicago em fevereiro.

Em outro movimento, os postos vagos serão preenchidos por aliados com ampla vivência na economia real e capacidade de negociação política. A maioria dos nomes já foi experimentada em desafios semelhantes durante o governo Bill Clinton (1994-2002). Esses são os casos de Sperling e de Daley. "Bill Daley entende como os empregos são criados e como fazer a economia crescer", resumiu Obama ao apresentar sua escolha.

Segundo Robert Pastor, professor da American University e ex-conselheiro de Segurança Nacional no governo Jimmy Carter, Obama é um dos poucos presidentes do Partido Democrata a preferir chefes de gabinete fortes. Esse foi o perfil de Emanuel e é o traço esperado em Daley. Ambos são de Chicago, berço político de Obama, e amigos a quem o presidente pode delegar a condução do governo - em especial, as negociações com o Congresso.

O processo de reeleição nos EUA, a rigor, deverá começar em meados deste ano. O embate inicial ocorrerá na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, e no Senado, com maioria estreita dos democratas. Projetos caros à agenda de Obama - como a reforma da imigração, o orçamento, o corte de gastos públicos e eventuais medidas de impulso à economia e o acordo de livre comércio com a Coreia do Sul - deverão tramitar até o final de 2012.

"Não me lembro de um presidente que tenha começado sua campanha tão deliberadamente, tão abertamente quanto Obama. Ele está enviando a Chicago seu principal colaborador, Axelrod, para iniciar a campanha eleitoral. Esse é o dado mais dramático dessas mudanças na Casa Branca", afirmou Pastor. "A nova equipe terá de construir um terreno político em apenas dois anos para garantir a reeleição. Isso passa pelo desafio de recuperar a economia, o problema número 1 dos americanos", completou.

A escolha do novo chefe de gabinete surpreendeu por não estar entre os nomes favoritos. Irmão de Richard Daley, prefeito de Chicago desde 1989, William vem de família de políticos e foi resgatado da posição de alto executivo do JP Morgan Chase. Nos anos 90, serviu como conselheiro de Clinton para a tramitação no Congresso do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, em inglês, firmado entre EUA, México e Canadá) e foi também seu secretário de Comércio. Nessa posição, teve papel essencial para a aprovação do pacote de redução do déficit público em 1997. Em 2000, conduziu a campanha presidencial do democrata Al Gore, derrotado por George W. Bush.

Até a próxima semana, Obama apresentar outras mudanças em seu grupo de colaboradores. Ontem, prometeu posto a Peter Rouse, chefe de gabinete interino desde outubro. Experiente em negociações com o Congresso, foi um responsáveis por difíceis vitórias da Casa Branca em dezembro, como a aprovação do pacote tributário. Figuras mais emblemáticas devem deixar seus postos neste início de ano. Entre elas, o secretário de Defesa, Robert Gates.

PONTOS-CHAVE

Reforma da Saúde

Apesar da quase inexistente chance de anulá-la, os republicanos tentarão bloquear fundos necessários para a aplicação da lei, o que pode levar à paralisação do governo

Guerra do Afeganistão

Obama prevê o início da retirada das tropas do Afeganistão em julho de 2011 e quer transferir gradualmente a responsabilidade pela segurança do país ao governo afegão até 2014

Reforma tributária

Presidente quer uma revisão ampla do código tributário americano e pretende reduzir as alíquotas e eliminar as isenções de impostos para grupos favorecidos

Política externa

O Departamento de Estado, comandado por Hillary Clinton, continuará investindo na aproximação com a Rússia e na contenção do programa nuclear iraniano