Título: BC impõe compulsório de 60% a bancos
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2011, Economia, p. B1
O governo Dilma Rousseff anunciou ontem sua primeira medida econômica para enfrentar o problema cambial. Com o objetivo de segurar a queda do dólar, o Banco Central criou regras que tornam menos atraentes as apostas de instituições financeiras de que o câmbio vai continuar nessa trajetória.
Nos últimos meses, bancos reforçaram essa estratégia e as chamadas "posições vendidas" já somam US$ 16,8 bilhões, novo recorde. Esse montante ajudou a derrubar o dólar e acendeu a luz vermelha no governo, deflagrando a ação anunciada ontem.
A intenção do BC é que os bancos diminuam essas apostas na valorização do real. A posição vendida é um crédito em dólar tomado pelas instituições no exterior, que ganham com a diferença entre os juros externo e interno e com a própria valorização da moeda no decorrer do tempo. Para desmontar essa posição, é preciso que os bancos comprem dólares para quitar esse endividamento. O efeito desejado da medida é aumentar a demanda por dólares em quase US$ 7 bilhões em 90 dias. Com mais compradores no mercado à vista, a expectativa é que a cotação da divisa americana tenha pelo menos alguma alta.
Sem remuneração. A medida, que vale a partir de 4 de abril, dificulta a vida dos investidores que tentam lucrar com o fortalecimento do real. Para isso, foi criado um depósito compulsório. Alexandre Tombini, novo presidente do BC, explicou que a medida foi adotada diante da avaliação de que essa posição dos bancos estava "superdimensionada" em relação ao tamanho do mercado de câmbio no Brasil, que movimenta cerca de US$ 2 bilhões por dia - pouco mais de 10% da aposta no real.
A nova regra prevê que os bancos que quiserem manter essas posições terão de recolher 60% sobre o valor da aposta que exceder US$ 3 bilhões ou o valor patrimônio de referência da instituição, valendo o que for menor. Antes, a regra não existia. O recolhimento compulsório é feito em reais no BC e o banco não ganhará nenhum tipo de juro.
Diante do quadro, instituições passarão a ter duas opções: deixar mais reais parados no Banco Central para manter as apostas de fortalecimento da moeda brasileira - o que causaria prejuízo ao banco que poderia usar o dinheiro em outras operações - ou diminuir as apostas no câmbio. O BC acredita que as instituições financeiras vão escolher a segunda opção.
Risco. O diretor de Política Monetária do BC, Aldo Luiz Mendes, prevê, até mesmo, que a posição vendida deve cair para cerca de US$ 10 bilhões, valor que considera "manejável". Segundo ele, o aumento forte da posição vendida gerava o risco de, em uma reversão abrupta da trajetória do dólar, os bancos promoverem uma corrida para comprar a moeda, aumentando a volatilidade do mercado cambial e causando danos à economia.
O diretor afirmou que a mudança é "prudencial" e evita que o mercado "se desloque muito de um ponto a outro" nas apostas no câmbio. Ele reconhece que, isoladamente, a medida aumenta a demanda por dólar e tende a levar a uma valorização.
Gatilho A medida vem dois dias depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer ao mercado que o governo tinha um arsenal de "infinitas medidas" para evitar que o dólar derretesse no Brasil.