Título: Para montadoras, iniciativa do BC não é suficiente
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2011, Economia, p. B1

O pacote do Banco Central para conter a queda do dólar é "saudável para todos os setores manufatureiros", mas não suficiente para a recuperação da competitividade da indústria automobilística, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini.

O setor registrou em 2010 um dos maiores déficits comerciais de sua história. Em valores, o saldo negativo, incluindo autopeças, foi de US$ 5,7 bilhões. Em unidades, a diferença é de 158 mil veículos importados a mais do que o volume exportado. Em breve, a Anfavea levará à presidente Dilma Rousseff um estudo com ações que podem ajudar a indústria a melhorar sua balança comercial.

Na opinião de Belini, as medidas do BC devem evitar que o dólar caia mais, mas não altera o quadro atual. "É provável que neste ano seremos novamente deficitários". Em 2010, foram importados 660,1 mil carros, o equivalente a 18,8% da venda recorde de 3,5 milhões de unidades.

Para este ano, a projeção da Anfavea é de participação de até 22%, o que significa trazer de fora 811 mil veículos de um total de 3,69 milhões de unidades previstas para o mercado nacional, 5% a mais que em 2010. Já as exportações devem cair de 765,7 mil unidades para 730 mil, incluindo carros desmontados (CKD).

Depois da produção também recorde de 3,63 milhões de veículos no ano passado, Belini projeta crescimento de apenas 1,1% neste ano, para 3,68 milhões de unidades. Se confirmados os números, será a primeira vez desde 1995 que a indústria brasileira vai produzir menos carros do que pretende vender.

Cerca de 60% das importações de carros são feitas pelas próprias montadoras, que alegam trazerem produtos principalmente de países com os quais o Brasil mantém acordo comercial, como Argentina e México. No ano passado, 63,7% das importações vieram dos dois países, ou 403,8 mil veículos, 38,7% a mais que em 2009. "A diferença é que também exportamos para esses países, ao contrário de outros, para onde nossos produtos não vão", diz Belini.

A Coreia já é o segundo maior fornecedor do Brasil, com 137,8 mil carros no ano passado, alta de 67,1% ante 2009. Da China vieram 20,1 mil, alta de 469%.

Estoque. Belini questionou ontem dados da Fenabrave (entidade de concessionários) de que 45 mil carros já licenciados ainda estariam nas lojas, o que teria inflado o resultado de dezembro. "Para nós, foi o melhor mês da história", com vendas de 381,5 mil veículos. "Não entramos nos detalhes da política comercial de cada montadora."