Título: Argentina dá a largada à corrida eleitoral
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2011, Internacional, p. A6

Cristina entra no último ano de mandato com projeto de chegar com chances à reta final da campanha para a votação de daqui a 10 meses

A presidente argentina, Cristina Kirchner, completou no mês passado três anos de governo. Resta-lhe apenas mais um ano na Casa Rosada, mas o governo quer que ela dispute e ganhe as eleições presidenciais previstas para daqui a dez meses.

Recentemente, vários de seus ministros afirmaram que ela está no páreo. O chanceler Héctor Timerman declarou que "não vislumbra outro candidato", pois a presidente é a "opção natural" do governo.

Esse foi o primeiro aniversário de posse da presidente sem o marido. O ex-presidente Néstor Kirchner, considerado o verdadeiro poder no governo de Cristina, morreu em 27 de outubro. Primeiro, a Casa Rosada viveu uma etapa de paralisia. Depois, a administração ficou desorientada pelas disputas entre ministros disciplinados até então pelo temperamental Néstor.

Para piorar, o último escândalo do site WikiLeaks revelou que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, estava preocupada com a "saúde mental" da presidente argentina e perguntava a seus diplomatas quais remédios ela tomava.

Nas últimas semanas, Cristina adotou uma nova posição, que inclui a moderação do discurso, a reaproximação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) - órgão que seu marido abominava - e a redução das críticas à imprensa. Analistas afirmam que seu último ano de mandato pode ser significativamente diferente do tempo marcado pela presença de Kirchner.

Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management & Fit afirmou ao Estado que Cristina começou a recuperar sua imagem em setembro, graças à retomada econômica. Em outubro, o período de luto e um comportamento mais "moderado" melhoraram ainda mais sua imagem.

Segundo Mariel, antes da morte de Néstor, a gestão de Cristina tinha quase 60% de reprovação. Semanas depois, a situação se inverteu. Sua aprovação foi para 60%. A avaliação positiva da presidente antes era de 34%. Agora é de 55%.

"Cristina está evitando críticas à imprensa e até cumprimentou, nos últimos dias, integrantes da oposição - algo raro antes. Durante a Cúpula Ibero-Americana, ficou mais próxima de Chile e Brasil, que preferiram moderação em relação aos despachos divulgados pelo WikiLeaks, e distante de países como Venezuela, Bolívia e Equador. Ela é mais racional do que Kirchner."

Para o colunista de política Carlos Pagni, do jornal La Nación, "parece que Cristina tinha um plano em stand by enquanto seu marido estava vivo". De acordo com Pagni, a morte de Kirchner retira o peso político do governo de Cristina. "Ele era um péssimo candidato para as eleições presidenciais de 2011. Possivelmente, levaria o kirchnerismo à derrota", disse.