Título: À espera de uma urgente reforma do câmbio
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2011, Economia, p. B2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou anteontem a imprensa para anunciar medidas relativas à taxa cambial, excessivamente valorizada em relação ao dólar. O anúncio foi que nada mudaria, mas que o governo adotaria medidas caso haja uma deterioração maior da taxa cambial.

O anúncio da convocação da imprensa teve um efeito sobre as cotações do câmbio, num primeiro momento, mas, no fechamento, a alta do dólar limitou-se a 0,78% e não parecia que haveria impacto sobre as cotações que, no meio da tarde, estavam ainda abaixo de R$ 1,70, o que, desde algumas semanas atrás, parece ser a linha de defesa da moeda nacional.

No entanto, a divulgação pelo Banco Central (BC) dos dados relativos ao fluxo cambial em 2010 mostra a urgência de se tomar medidas nessa área. O fluxo foi positivo em US$ 24,354 bilhões, com redução de 15,2 % em relação ao ano anterior, porém 72,1% inferior ao fluxo cambial de 2007, anterior à crise internacional. A exportação gerou entradas 22,2% maiores do que em 2009, graças a um forte aumento dos Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC). As importações acusaram crescimento de 140,1%. No caso das operações financeiras, o saldo positivo de R$ 26,004 bilhões resultou de um aumento de 12,8% das compras (isto é, do endividamento) e de 54,7% das vendas de divisas.

Para evitar maior valorização da moeda nacional, o BC comprou US$ 41,417 bilhões no mercado cambial, 73,3% a mais do que no anterior, compras que responderam pela maior parte da formação de reservas internacionais do BC, que cresceram US$ 43,8 bilhões no ano passado. Sabe-se que a manutenção dessas reservas tem um custo muito elevado, pois são essencialmente aplicadas na compra de títulos do Tesouro norte-americano, cuja remuneração é muito baixa, mas exigem a colocação de títulos do Tesouro Nacional com remuneração de 10,75%.

A taxa cambial excessivamente valorizada, em razão do bom resultado da economia interna, mas também das entradas de divisas favorecidas pela remuneração que oferecemos aos investidores estrangeiros, está asfixiando a indústria nacional, que não tem mais um preço competitivo para exportar. Além disso, ao favorecer a entrada de produtos importados, contribui para elevar o déficit das transações correntes do balanço de pagamentos. Assim, aumentamos nossas reservas internacionais, mas quase na mesma proporção do aumento da nossa divida externa bruta. É uma situação paradoxal.