Título: Caos marca resposta à explosão
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2011, Vida, p. A18

Procedimentos de emergência falharam; funcionários ficaram perplexos com a confusão - O Estado de S.Paulo A primeira grande explosão ocorreu no motor 3, creem os investigadores. Uma segunda atingiu o motor 6. Pegas nesse fogo cruzado estavam a sala de máquinas e a oficina de Mike Williams. Ele trabalhava em seu computador quando tudo explodiu. Uma porta atingiu sua testa. Com sangue pelo rosto, ele segurou uma lanterna na boca e começou a correr. Chegou a uma outra porta, mas foi atirado nove metros de volta pela segunda explosão.

Tentou chegar ao bote salva-vidas ao lado da sala das máquinas. A superestrutura do motor 3 tinha explodido, mas os dois salva-vidas pareciam intactos. Foram concebidos para 73 pessoas, mas ele pensou em lançar um para si. Em vez disso, foi ajudar o pessoal da sala de comando.

Por toda a plataforma, as explosões atingiam equipes ainda inconscientes da ameaça. Na galeria, Kenneth Roberts lavava pratos. A explosão o derrubou. "Acordei em cima de uma mesa." Virginia Stevens estava na lavanderia. As explosões fizeram com que ela ficasse presa. "Nenhum alerta, nada", contou.

Do outro lado do deck, Micah Sandell foi arrastado para trás da sua cabine da grua pela segunda explosão. Uma bola de fogo de centenas de metros de altura envolveu a torre e se formou em torno da sua cabine.

Depois da explosão, Steve Bertone, engenheiro-chefe, saiu correndo da sua sala na direção da sala de comando. Examinou as condições da plataforma. Suas máquinas estavam paradas. Não havia energia. Os telefones não funcionavam. Tentou se comunicar por rádios portáteis, que também não funcionavam. Nesse intervalo, o capitão Curt Kuchta gritava para Andrea Fleytas para que ela acionasse o SOS.

Então Williams chegou à sala de comando e anunciou que a sala de máquinas estava destruída. Ele descreveu as explosões. Sem energia não havia como combater o fogo nem controlar a plataforma. Só após as explosões a equipe da sala de comando pressionou o alarme geral.

Passaram-se pelo menos dois minutos desde que os primeiros alertas de gás soaram, mostram gravações e entrevistas. E, segundo autoridades do governo e uma investigação interna da BP, nove minutos desde que a lama invadiu o convés de perfuração, embora a Transocean tenha sugerido que podem ter sido seis minutos.

Havia uma maneira de impedir que a plataforma afundasse, pensou Chris Pleasant, um dos responsáveis pelo sistema de prevenção de explosão. Eles deviam desconectar a torre do sistema e, portanto, do próprio poço. Isso evitaria que o fogo atingisse a principal fonte de combustível e daria à Horizon uma chance. Ele precisava acionar o sistema de emergência (EDS) para isso e depois sinalizar para selar o poço, talvez interrompendo o fluxo de óleo. "Vou acionar o EDS", disse ele ao capitão.

Testemunhos diferem quanto ao que ocorreu em seguida, mas concordam num ponto: mesmo com a plataforma em fogo, sem energia e destruída pelas explosões, havia resistência a essa medida "drástica". Segundo Pleasant, o capitão respondeu: "Calma, não apertaremos o EDS."

Bertone lembra de alguém gritando que era necessária a aprovação de Jimmy Harrell. Então, Harrell finalmente deu sua aprovação. Bertone supôs que a plataforma estava agora liberta do poço. Entretanto, David Young, encarregado de duas equipes de combate a fogo, descobriu um novo problema. Depois das explosões, ele foi até um cacifo de incêndio e apenas de seus homens apareceu. "Não fomos treinados para combater um incêndio desse porte", disse Matt Jacobs, bombeiro que foi direto para o barco salva-vidas. Mas o ponto sem volta para a plataforma foi a falha do sistema de desconexão de emergência - por razões ainda não esclarecidas.

"Temos de ir." Caleb Holloway e Dan Barrow correram pela passarela na direção do deck salva-vidas. Havia ali dois botes, com os membros da tripulação. Holloway e mais dois homens saltaram para um dos botes e esperaram pelos outros. Então ouviram a segunda explosão.

Holloway saiu do bote. A porta que levava para os alojamentos foi aberta pela explosão. Ele entrou num corredor escuro. Esteve ali centenas de vezes, mas tudo estava irreconhecível: paredes derrubadas, o teto pendia. De repente viu homens aturdidos vindo na sua direção. Alguns estavam sem camisa ou apenas com a roupa de baixo. Juntos, foram para os botes.

De todos os procedimentos de emergência, o de evacuação era o mais praticado. Mas essa medida se desintegrou. No deck repleto de trabalhadores, cada um podia ver, sentir e ouvir as chamas tomando a torre. A tripulação deveria primeiro se reportar a um supervisor, mas muitos simplesmente se empilharam nos botes.

Alguém deu ordem para os homens saírem, mas não foi obedecido. Nos botes fechados, o calor e a fumaça aumentavam. Os homens começaram a gritar para os timoneiros partirem. A torre em chamas poderia cair sobre eles. "Temos de ir", gritavam. Alguns choravam.

O barco salva-vidas n.º 2 saiu primeiro, sem muitos dos passageiros que deveriam estar nele. Holloway foi um dos últimos a entrar. Logo viu Harrell e alguns outros vindo dos alojamentos, carregando alguém numa maca, com as costas queimadas, um ferimento profundo no pescoço e outro na perna.

A maca não se encaixou no bote repleto. Assim, eles tiraram o paciente dela, colocaram-no no barco e o prenderam com correias. Holloway olhou em volta para procurar outros membros da sua equipe. Os dois barcos partiram, mas pelo menos dez pessoas ficaram, ainda vivas, na plataforma.

Quando o bote n.º 1 chegou ao navio Bankston, Holloway subiu ao deck e finalmente encontrou um homem que tinha uma lista da tripulação. Apenas dois nomes da sua equipe estavam assinalados - o seu e o de Barron.

No deck, a tripulação da Horizon se reuniu em grupos. Na água, a plataforma assoviava e gemia quando começou a se inclinar. A torre foi a pique.

Harrell ficou com sua equipe no deck. Parecia que ele carregava o peso do desastre nas costas. Alguns acharam que podia ter um ataque cardíaco. Fizeram tudo para confortá-lo. Ele dizia que gostaria de poder retornar no tempo. "Não sei o que sucedeu", disse a Holloway. "Eu também não", respondeu Holloway.

A manhã seguinte estava clara e calma. A plataforma, cada vez mais distante, queimava. A tripulação se reuniu no deck do Bankston e formou um círculo. O gerente da BP explicou que eles estavam indo para a terra. Leo Lindner interrompeu: "Devemos rezar pelos nossos mortos". O grupo fez silêncio. Patrick Morgan, um perfurador assistente, falou primeiro: "Pai nosso...", e todos se uniram a ele na oração. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO