Título: Imobilismo do Brasil preocupava Washington
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2011, Internacional, p. A11

Entre as dezenas de telegramas dos EUA relativos à ocupação das instalações da Petrobrás na Bolívia, em maio de 2006, destaca-se o choque da Embaixada Americana em Brasília com o que consideravam imobilismo do governo brasileiro diante das ações hostis de Evo Morales. As críticas se multiplicam e classificam a atitude do Brasil de "posição fraca" e "fruto insípido de um dia inteiro de reuniões".

As mais duras avaliações são feitas em despacho de 3 de maio de 2006. Nele, diplomatas americanos comentam sobre a reunião de crise coordenada no dia anterior pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Após uma reunião de emergência para discutir a resposta adequada à nacionalização dos investimentos estrangeiros em petróleo e gás de 1.º de maio, o governo Lula emitiu um comunicado público surpreendentemente brando, na noite de 2 de maio, reconhecendo a soberania do ato da Bolívia, mas reafirmando que o governo brasileiro agiria para proteger os interesses da Petrobrás", afirma o texto.

Em seguida, o despacho aborda a reação da imprensa, crítica ao imobilismo do governo sobre o tema. "Em contraste com a posição pública frágil do governo Lula, o comentário da mídia brasileira tem sido agudo, condenando a Bolívia pelo uso de tropas para ocupar as instalações de petróleo e gás."

O mesmo telegrama descreve o conteúdo do comunicado emitido pelo Palácio do Planalto, qualificando-o de "fruto insípido de um dia inteiro de reuniões". A embaixada americana também fez um balanço do impacto político e econômico da crise. Graças à pequena representatividade dos investimentos da Petrobrás na Bolívia, os EUA avaliam que a repercussão financeira seria pequena.

O prejuízo político, porém, seria considerável. "Em nível político, Lula e sua equipe de política externa não poderiam parecer piores neste momento." Segundo os americanos, no imaginário popular o caso ficará marcado como o momento no qual o Brasil foi manipulado por Chávez e Evo.