Título: Meirelles blinda Tombini para o Copom
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2011, Economia, p. B1

Sem o peso da presidência do Banco Central, o ex-presidente Henrique Meirelles encarna novo discurso e seu sucessor, Alexandre Tombini, se ancora na orientação da presidente Dilma Rousseff para afirmar que a política do BC é de continuidade. "A orientação da presidente foi para que eu assumisse o compromisso de buscar o controle da inflação de forma incansável e intransigente", disse Tombini na solenidade de transmissão de cargo.

Minutos antes, o próprio Meirelles demonstrava que não há incompatibilidade entre crescimento econômico e controle da inflação, o que ele sempre considerou como "um falso dilema". No discurso de despedida, Meirelles passou uma mensagem e, ao mesmo tempo, uma preocupação: o risco de se considerar que um pouquinho mais de inflação não tem problema. Meirelles defendeu a necessidade de o País ter condições de se planejar no longo prazo, alternativa saudável para atrair investimentos.

Esse posicionamento é o ponto de partida para que Tombini construa sua influência no governo e credibilidade com o mercado financeiro, ao defender o sistema de metas de inflação. Ele agradou e Meirelles surpreendeu. Nos últimos oito anos, o ex-presidente que sempre foi meticuloso na escolha das palavras certas para evitar interpretações de seus discursos, adotou uma linguagem direta para comentar: "A necessidade de aumento da Selic não representa uma crise. É apenas de um ajuste. Não é preciso nenhum alarido porque a Selic vai aumentar", disse.

Com esse discurso Meirelles blinda Tombini, que nos dias 18 e 19 preside a primeira reunião do Copom do governo Dilma. Ele assume com o terreno preparado e com as cartas na mesa: se necessário, o Copom aumenta a Selic este mês, numa reafirmação da política de que a alta dos juros é o melhor instrumento para trazer a inflação para a meta. Em todos os critérios de análise, o IPCA de 2011 sinaliza para uma inflação de 5%, acima da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O diagnóstico do Banco Central é conhecido. O efeito surpresa é a relação que Dilma terá com a área econômica. Não se deve desprezar a capacidade técnica da presidente para interferir na condução da política econômica, que é muito maior que a do ex-presidente Lula, que sempre dava seus pitacos.