Título: Pacto adiou investigação de cunhado de Alckmin
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2011, Nacional, p. A5
Prefeito de Pindamonhangaba selou acordo em 2006 para não atingir campanha de tucano
Políticos de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, fizeram um pacto em 2006 para blindar o tucano Geraldo Alckmin - então candidato à Presidência - retardando medidas para investigar o escândalo que envolve seu cunhado, Paulo Ribeiro, o Paulão, em suposto esquema de corrupção e tráfico de influência.
Documento subscrito por 11 vereadores da cidade diz expressamente que o prefeito João Ribeiro (PPS), apadrinhado de Alckmin, teria se comprometido a "tomar providências" sobre denúncias de desvios na administração "após as eleições".
O documento foi redigido em 27 de outubro de 2006, a dois dias do segundo turno das eleições presidenciais. Alckmin duelava com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. "O objetivo era impedir que (o escândalo) respingasse no Geraldo", conta João Bosco Nogueira, ex-vice prefeito de Pinda que rompeu com João Ribeiro após se insurgir contra movimentos de Paulão no governo municipal.
Nogueira afirma ter ouvido do prefeito o compromisso de que adotaria medidas, inclusive demitindo secretários que teriam sido indicados pelo lobista. "Isso aconteceu entre o primeiro turno e o segundo da eleição para a Presidência", relata Nogueira. "O prefeito disse: "pode tranquilizar o pessoal (na Câmara); só não faço nesse momento (demissões) para não atingir a candidatura do Geraldo"."
A destinatária do Ofício 1.054, em papel timbrado da Câmara, foi a promotora de Justiça substituta, Daniela Rangel Cunha.
Os vereadores - entre eles Myriam Alckmin, sobrinha do governador, hoje vice-prefeita - informam ao Ministério Público que "tomaram conhecimento, por intermédio do vice-prefeito João Bosco Nogueira, sobre esquema de corrupção envolvendo secretários da prefeitura com diversas empresas que prestam serviços".
Em três tópicos, os vereadores resumem relato que ouviram de Nogueira - prefeito em dois mandatos. O primeiro capítulo diz: "No mês de outubro de 2006, ele (vice-prefeito) esteve na casa do sr. prefeito e lá estava presente o sr. Manoel César Ribeiro Filho, diretor de Habitação, quando relatou que tinha provas e o sr. prefeito falou que as providências seriam tomadas com relação ao possível esquema de corrupção envolvendo a prefeitura."
Provas. O segundo item cita o nome de um dos alvos do Ministério Público: "(O vice-prefeito) relatou que tudo isso foi comentado com o sr. prefeito, o qual falou que até o dia 30 de outubro, após as eleições, seriam tomadas as providências, ou seja, demitir o secretário Silvio Serrano (Finanças) e toda a sua equipe."
O terceiro ponto da carta: "Disse também que, se caso o prefeito não tomasse nenhuma providência, ele mesmo (Nogueira)o faria e apresentaria as provas relacionadas."
Passada a eleição, Alckmin derrotado, Serrano foi mantido na pasta de Finanças. A promotoria apurou que ele foi indicado pelo cunhado do governador.
Bosco Nogueira, o ex-vice, disse que "achou sensato" que providências fossem tomadas após o pleito. "Eu tenho o Geraldo na conta do homem corretíssimo. Mas, depois da eleição, nenhuma medida foi tomada pela prefeitura. Eu entendo que o prefeito ficou refém da quadrilha, deu tremedeira nele. Tomaram tudo de assalto. O chefe da quadrilha é esse Paulão, ele financiou a campanha do João Ribeiro."
A demissão do secretário, enfim, veio quatro anos depois, em outubro de 2010. Pressionado pela investigação da promotoria e questionamentos da Câmara - onde já não tem maioria -, o prefeito exonerou o chefe das Finanças e outros assessores do primeiro escalão. Alegou "transparência da administração".
O governador não se manifesta sobre o escândalo. O Ministério Público não abre informações sobre a investigação, que está sob sigilo. O advogado Gilberto Menin, sócio do Menin Advogados, que defende Paulão, reafirma que seu cliente "não praticou qualquer ato ilícito".