Título: Alvo de ação, empresa doou mais para PT
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2011, Nacional, p. A5

Siglas da base de Dilma foram beneficiadas pela UTC, contestada pela procuradoria

Os partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff foram os que mais receberam doações da empresa UTC Engenharia e da entidade Interfarma nas eleições de 2010. As duas entraram na mira do Ministério Público Eleitoral, que considera ilícita a ajuda financeira por parte delas. Cerca de R$ 17,8 milhões dos R$ 22,6 milhões (ou seja, 78%) doados pela UTC e pela Interfarma em todo o País foram parar na conta dos partidos ou candidatos que apoiam o governo de Dilma. Só o PT e seus candidatos ficaram com metade do dinheiro, cerca de R$ 11,5 milhões. Eleito deputado federal, o ministro de Relações Institucionais do governo, Luiz Sérgio, recebeu, por exemplo, R$ 200 mil da UTC. A Procuradoria Eleitoral de São Paulo entrou com ações no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para instaurar processo e cassar os mandatos de 17 candidatos eleitos em 2010 com doações da UTC e da Interfarma. Entre os citados estão o governador Geraldo Alckmin (PSDB), seu vice, Guilherme Afif (DEM), e parlamentares tucanos, petistas e de outros partidos. Para o Ministério Público, a UTC não poderia ter feito doações por ser concessionária de serviço público, e a Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), por ser entidade de classe. Os procuradores alegam que elas se enquadram nas fontes vedadas pela lei 9.504/97. A UTC gastou R$ 20,8 milhões na campanha de 2010. A empresa tem contratos com a Petrobrás para exploração de petróleo e gás. Em seu site, lista ainda como clientes a Sabesp, estatal paulista de saneamento, e a Cemig, empresa mineira. No Rio Grande do Sul, a deputada Manuela D"Avila (PCdoB) foi alvo de ação semelhante. Ela recebeu R$ 100 mil da Interfarma, entidade que doou R$ 1,8 milhão na disputa eleitoral. Levantamento na prestação de contas do TSE mostra que a UTC Engenharia transferiu R$ 6,5 milhões para a conta direta do PT, sendo R$ 6 milhões destinados diretório nacional. O restante, cerca de R$ 5 milhões, foi doado diretamente aos candidatos. As contribuições financeiras em campanhas podem ocorrer para os partidos ou especificamente aos políticos. O último repasse da UTC ao PT, segundo os dados do tribunal, foi feito no dia 24 de novembro, quando Dilma já estava eleita. Uma transferência eletrônica de R$ 1 milhão foi realizada para a conta da direção nacional naquele dia. O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), ficou em primeiro lugar entre quem recebeu recursos diretos. Foram R$ 2,4 milhões repassados pela UTC Engenharia ao petista. O PMDB, do vice-presidente Michel Temer, ficou em segundo lugar entre os partidos beneficiados, com R$ 2,2 milhões doados pela empresa de engenharia. E os candidatos a deputado Osmar Gasparini (RS), Saraiva Felipe (MG), Darcísio Perondi (RS), e Colbert Martins (BA) foram ajudados pela Interfarma durante a campanha eleitoral. O PSDB ocupou a terceira colocação, com R$ 1,8 milhão. Pelo menos R$ 300 mil foram parar na campanha do presidente do DEM e deputado reeleito, Rodrigo Maia (RJ), e outros R$ 300 mil na de ACM Neto (BA), também reeleito. Nenhum dos candidatos procurados nem a Petrobrás responderam à reportagem.