Título: Alemanha e França vetam fundo de resgate maior
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2011, Economia, p. B1

Presidente da Comissão Europeia queria anunciar medida ontem, mas os dois caixas da UE dizem que 400 bilhões são suficientes para socorros

A Comissão Europeia planejava anunciar ontem seu novo plano para unificação das políticas econômicas do bloco e garantir a aceleração do crescimento na próxima década, no que seria a reforma mais profunda da União Europeia em anos. Mas, no melhor estilo europeu, as discordâncias sobre como lidar com países à beira de um colapso prevaleceram.

José Manuel Barroso, presidente da Comissão, propôs oficialmente ontem que o fundo de resgate aos países fosse ampliado. Horas depois, Alemanha e França, os dois caixas da UE, vetaram a ideia e colocaram mais uma vez o bloco em um clima de incerteza.

O mecanismo criado pela UE em 2010 estabeleceu um fundo de 440 bilhões para financiar países em dificuldades e dar sinais claros ao mercado e especuladores de que o euro não estaria ameaçado.

Agora, Barroso quer ir além e diz ter o apoio do Banco Central Europeu e do próprio diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss Kahn. "Acreditamos que nossa capacidade de financiamento deva ser reforçada e o grau de atuação do mecanismo de socorro deva ser ampliado", anunciou Barroso.

O português quer uma decisão sobre esse assunto já na próxima semana, antes da cúpula da UE, no dia 4 de fevereiro. Mas esbarra na negativa de Berlim e Paris, que alegam que não existe motivo para ampliar o fundo. Ambos teriam de dar mais recursos para essa expansão.

"O governo alemão acredita que, nesse momento, não há sentido e é desnecessário falar sobre uma ampliação do fundo", afirmou o porta-voz do governo de Berlim, Steffen Seibert. Para a chanceler Angela Merkel, o mecanismo está "distante" de ter sido usado em sua exaustão e simplesmente afirmou que não falaria mais do assunto.

Na França, o porta-voz do governo, François Baroin, também declarou que o fundo era "suficientemente grande" e que o assunto sequer estava na agenda da reunião de ministros de finanças da UE, na semana que vem, como queria Barroso.

Sem obrigação. No fundo, o que esses dois países não querem é a obrigação de ter de contribuir ainda mais para salvar outros países do bloco. Na crise grega, Merkel deixou claro que não ajudaria, até que foi convencida de que reformas seriam feitas na economia de Atenas.

Para os mercados, porém, os 440 bilhões que existem no fundo, além de outros 300 bilhões do FMI, simplesmente não seriam suficientes para fazer frente a uma crise, caso ela saia da periferia da Europa e chegue a uma das principais economias, como Espanha, Itália ou Bélgica.

Entre as diversas propostas para ampliar o fundo está a da própria Bélgica, que pede um mecanismo "ilimitado". Outra possibilidade seria a criação de uma taxa sobre bancos que daria ao fundo 50 bilhões ao ano. "Os debates estão ocorrendo e queremos que o mecanismo que estamos criando possa cumprir sua função", afirmou Olli Rehn, comissário de Assuntos Econômicos da UE.