Título: Exportação do agronegócio é recorde
Autor: Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2011, Economia, p. B4

Apesar de as vendas terem alcançado US$ 76,4 bilhões no ano passado, a participação do setor na balança comercial caiu para 37,9%

Com a alta dos preços das commodities, as exportações do agronegócio atingiram o recorde de US$ 76,4 bilhões em 2010 e devem ser maiores em 2011, alcançando US$ 85 bilhões. A elevação de 18% do valor das vendas no ano passado (que inclui aumento de preços e quantidade), entretanto, foi insuficiente para manter a participação do setor na balança comercial brasileira.

A fatia da agricultura e da pecuária na comercialização caiu de 42,5% para 37,9% e a explicação para a queda dada pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi a de que itens como petróleo e mineração conseguiram uma recuperação maior dos impactos da crise financeira internacional. Nos últimos 10 anos, apenas em 2009, quando os reflexos da turbulência externa tiveram seu auge, as exportações de agronegócio apresentaram um decréscimo em relação ao ano anterior.

Mesmo assim, o saldo da balança do agronegócio no ano passado foi de US$ 63 bilhões, um aumento de US$ 8,1 bilhões em relação a 2009, também uma marca histórica. E o resultado só não foi maior porque, para evitar problemas de abastecimento interno, o governo liberou as compras de produtos essenciais, como trigo e algodão. Com isso, as importações do setor cresceram 35,2%, passando de US$ 9,9 bilhões para US$ 13,4 bilhões.

O ministro minimizou a influência da baixa do dólar sobre a comercialização brasileira. "Muitos falam que o câmbio amarra, mas a competência do agronegócio brasileiro é tão grande que somos capazes de sair da fazenda com custo razoável para enfrentar dificuldades."

Apenas levando-se em conta a quantidade de produtos agrícolas e pecuários vendidos pelo Brasil ao exterior, o crescimento verificado no ano passado foi de somente 3% em relação a 2009. "Pode parecer pouco, mas é muito significativo para quem saiu de uma crise. Economias de alguns países não cresceram tanto assim no ano passado", avaliou.

A China se consolidou em 2010 como o país que mais comprou produtos do agronegócio brasileiro - desde 2008, aparece na liderança das importações. No ano passado, o Brasil registrou aumento de 23,4% das vendas do setor para os chineses. Assim, a fatia de importação desses produtos pelo país representou 14,4% do total de itens de agronegócio vendidos. Na sequência, aparecem os Países Baixos e os Estados Unidos, com 7,1% do total exportado cada.

O presidente da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, Emílio Kenji Okamura, disse que o produtor paulista não se beneficiou com a alta que as principais commodities agrícolas tiveram no fim do ano. "Como nosso agricultor trabalha de olho no custo da produção, assim que a cotação cobre o custo, ele faz a venda antecipada", explica. Para ele, o produtor da região vai manter a aposta na soja, na safra deste ano.

O açúcar foi o grande destaque das exportações do agronegócio brasileiro em 2010. Apesar de a soja manter a liderança entre os itens mais vendidos pelo País, a forte expansão das receitas, de 52%, tornou o complexo sucroalcooleiro responsável por 18% das exportações do setor.

Com isso, o complexo - formado por açúcar e etanol - ocupou o segundo lugar no ranking e tomou o lugar das carnes, que atualmente respondem por 17,8% das vendas externas. A soja registrou no período queda na participação das vendas internacionais - de 26,6% para 22%.

Futuro. A expectativa de Rossi de que as exportações brasileiras poderão alcançar US$ 85 bilhões este ano leva em conta a média anual do crescimento das exportações brasileiras nos últimos 10 anos, que foi de 14% ao ano. "Esperamos pelo menos 10% de crescimento", disse. De 2000 a 2010, as vendas externas do setor registraram crescimento de 270%, saindo de US$ 20,7 bilhões em 2000. / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA