Título: Inflação e cenário global desafiam gestão Tombini
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2011, Economia, p. B1

Analistas avaliam que presidente do BC terá dificuldade para controlar índice de preços

Neste início de mandato à frente do Banco Central (BC), o economista Alexandre Tombini depara-se com um cenário inflacionário semelhante ao de seu antecessor, Henrique Meirelles. Em 2003, no começo do primeiro mandato de Lula, o IPCA acumulado em 12 meses superava os 12%. Agora, está perto de 6%. Em ambos os casos, acima da meta de 4,5% ao ano.

Apesar das magnitudes diferentes, a tarefa de Tombini não é tão simples (comparada à de Meirelles) quanto parece. Em primeiro lugar, porque o cenário global era mais favorável a preços bem comportados em 2003 do que hoje.

Em segundo, porque, logo no início do governo Lula, anunciou-se um forte ajuste fiscal, algo que (apesar da retórica do ministro da Fazenda, Guido Mantega) parece descartado hoje. Por fim, em 2003, Meirelles contou com a elevação do juro básico promovida pelo antecessor, Arminio Fraga.

"Como há o efeito defasado da política monetária, a alta da Selic no fim do governo Fernando Henrique fez efeito nos primeiros meses do primeiro mandato de Lula", diz a economista do Banco Santander Tatiana Pinheiro. Em outras palavras, uma puxada (para cima ou para baixo) do juro básico só faz efeito na economia alguns meses mais tarde. No Brasil, estima-se que sejam entre 6 e 9 meses.

"Vai ser difícil para o Banco Central levar a inflação de volta para o centro da meta de 4,5%", diz a economista Ariadne Vitoria, da Rosenberg & Associados. "Os serviços têm subido bem acima da média e a demanda forte deve fazer com que se mantenham assim", exemplifica.

Política fiscal. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avalia que, na melhor das hipóteses, o IPCA voltará para o centro da meta ao longo de 2012. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, também trabalha com esse cenário, ao menos por enquanto.

"Um IPCA de 4,5% em 2012 só é possível se o governo fizer tudo direitinho, o que inclui uma política fiscal bem mais apertada", observa.

Meirelles elevou a taxa básica de juros (Selic) de 25% para 26,50% ao ano em 2003 (a taxa começou a cair no segundo semestre e encerrou aquele ano em 16,50%). O IPCA, por sua vez, saiu de 12,53% em 2002 para 9,3% em 2003. Só retornou à meta (mesmo assim, dentro do intervalo máximo da banda, de 8% na época) em 2004 (quando fechou em 7,6%).