Título: Nossos restaurantes estão mais caros do que na Europa
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2011, Economia, p. B4

Vamos apostar um jantar? Eu desafio vocês a saírem pela noite paulistana para uma refeição do tipo couvert-entrada-prato-sobremesa e pagar menos de R$ 100. Se pedir vinho, então (em taça, claro), aí é barbada. Para muito além da inflação, nossos restaurantes mudaram de patamares de preço. As contas de três dígitos, antes restritas à alta cozinha, viraram padrão. Por que aconteceu isso?

São Paulo é uma cidade cara: aluguéis, serviços, mão de obra, insumos, as coisas saíram do controle. Este é um aspecto. Depois, é verdade que vivemos hoje numa economia aquecida. Os salões estão cheios, muitos lugares têm filas. Se a demanda é forte, por que os restaurantes haveriam de reduzir seus preços? Seria antinatural.

É diferente do que acontece em centros gastronômicos como Espanha, França, Itália, EUA: impactados pela crise, os empreendedores começaram a cobrar valores mais amigáveis; a fazer menus especiais de almoço; a diminuir margens.

Ficamos então mais caros do que o chamado primeiro mundo. Mas, sinto informar que, gastronomicamente, na média, continuamos aquém dos principais polos. E minha grande crítica é que as refeições não valem aquilo que está sendo cobrado. Pois preço é uma coisa; valor, outra.

Um jantar nos restaurantes de elite de São Paulo pode sair por US$ 200 per capita. Com vinho (simples), US$ 300 e por aí vai. Mais do que se paga em endereços com estrelas Michelin na Europa. Se a questão fosse só a nossa haute cuisine (alta cozinha), vá lá. Mas a síndrome do luxo se alastrou. Um equívoco de posicionamento.

Estabelecimentos de nível mediano, que trabalham com receitas de domínio público, que lidam com ingredientes normais, andam cobrando como se fossem alta gastronomia. Os frequentadores? Sofrem com isso, mas têm parte da culpa.

A clientela quer muitos garçons, valet, hostess, toalhas de linho e taças de cristal. Tudo isso, claro, vira custo. Nada contra o luxo, que é necessário - mas que deveria ter hora e lugar certos para existir. Se a norma é exigir pompa em todo e qualquer lugar, um bistrô que poderia cobrar um prato por R$ 30 acaba vendendo por R$ 50.

Meu conselho, para quem tiver condições, é: comam no exterior. Vocês terão a noção de como estamos pagando contas irreais. Ou, ao menos, invistam seu dinheiro no que é bom, não no que é mediano. Pois, voltando ao conceito de valor, quando comemos mal, sempre é caro.