Título: Índia: o próximo desafio asiático
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2011, Economia, p. B7

É praticamente impossível falar do desempenho recente e futuro da economia brasileira sem mencionar a China na mesma frase. Esse "choque" chinês já gerou material suficiente para deixar uma geração de economistas (pré) ocupada com temas como desindustrialização ou gerenciamento das rendas das commodities. Mas a boa ou má notícia, dependendo da sua posição no debate, é que esse não é o último grande "choque" asiático.

Existem sinais claros de ascensão de outra economia asiática com mais de 1 bilhão de habitantes, com uma disponibilidade de recursos produtivos similar à chinesa (na verdade, com uma escassez de recursos naturais ainda mais severa), e que tende a elevar para um outro patamar os dilemas que hoje enfrentamos com a China.

Nos últimos 10 anos, a Índia vem crescendo a uma taxa média anual de 7%, impulsionada pela liberalização comercial e pelo dinamismo dos serviços e da indústria. Esse crescimento, no entanto, vem acompanhado de um paradoxo. O comércio entre Índia e países latino-americanos, como Brasil, ainda não decolou, pelo menos não na mesma magnitude do comércio com a China. Dois fatores aparecem como principais candidatos para explicar esse paradoxo: as barreiras comerciais e os custos de transporte.

Para que esse enorme potencial comercial da emergência da Índia seja aproveitado em um relacionamento bilateral dinâmico e sem grandes desequilíbrios, é fundamental que se persiga uma agenda comercial que reduza essas barreiras. Arroubos de retórica Sul-Sul não são suficientes e podem levar a concentração da pauta e aos desequilíbrios que enfrentamos hoje no comércio com a China.

Igualmente importante seria estimular os fluxos de investimentos bilaterais de maneira a reduzir as resistências políticas à liberalização comercial e a aproveitar as vantagens da proximidade com o consumidor final. Assim como no caso da China, a ascensão da Índia também tem implicações competitivas para o Brasil, mas que vão além da manufatura e envolvem serviços de informática (TI).

Em suma, a ascensão da Índia vai acentuar os dilemas que enfrentamos com a China, sobretudo o desafio de aproveitar ao máximo os benefícios de uma demanda insaciável por nossos recursos naturais, ao mesmo tempo em que evitamos os riscos de uma especialização em um pequeno número de produtos básicos. Uma solução satisfatória pede uma política comercial mais efetiva e uma maior urgência em resolver as nossas bem conhecidas deficiências em educação, acesso ao crédito, ciência e tecnologia, e infraestrutura.

É ECONOMISTA-CHEFE DO SETOR DE INTEGRAÇÃO E COMÉRCIO DO BID