Título: Relações vão além dos produtos básicos
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2011, Economia, p. B7

Com mercados similares, cada vez mais aumenta o número de empresas do Brasil que investe na Índia e vice-versa

A relação comercial entre Brasil e Índia não se limita às commodities. Com mercados consumidores similares, é cada vez maior o fluxo de empresas brasileiras investindo na Índia e vice-versa.

A fabricante de motores Weg inaugura no próximo mês uma fábrica na Índia. A unidade está localizada na cidade de Hosul, próxima a Bangalore. São 32 mil metros quadrados de área construída e serão geradas 250 vagas de trabalho.

A empresa catarinense segue os passos da Marcopolo, fabricante de ônibus. É comum circularem pelas ruas da Índia os veículos feitos pela Marcopolo.

A empresa brasileira está no país desde 2006, em parceria com a Tata Motors. As duas empresas formaram uma joint venture, com 49% de capital brasileiro e 51% indiano.

Em 2007, foi construída a fábrica em Lucknow. No fim de 2008, uma nova unidade começou a operar em Dharward. As duas fábricas produziram cerca de 12 mil veículos em 2010.

De acordo com Gelson Zardo, diretor de sistemas e processos da Marcopolo, a empresa brasileira é responsável pelo treinamento da mão de obra local. "Esse tem sido um dos pontos-chave do sucesso da operação."

A Docol, fabricante de torneiras e válvulas hidráulicas, exporta para a Índia há 12 anos. Em 2005, preferiu centralizar todas as vendas na Jaguar, o maior fabricante local.

Desde então, as duas empresas estabeleceram uma parceria comercial em que os produtos mais simples são feitos na Índia, com as peças mais sofisticadas importadas do Brasil.

"Com esse arranjo, reduzimos o impacto das tarifas de importação, que chegam a 40%", conta o diretor comercial da Docol, Guilherme Bertani. A logística é o mais complicado, porque, como não há rotas diretas, um navio leva 45 dias para chegar na Índia.

Ainda assim, o país asiático é hoje o terceiro principal destino de exportação da Docol, depois de Argentina e Estados Unidos. A empresa estuda a construção de uma unidade local, mas os planos ainda são preliminares.

Os investimentos de empresas indianas no Brasil são recentes, mas também estão ocorrendo. Maior fabricante de açúcar da Índia, a Renuka chegou ao Brasil em 2009.

A empresa adquiriu 100% das ações do grupo paranaense Vale do Ivaí, avaliadas por US$ 240 milhões. Em seguida, comprou 50,34% do grupo Equipav, pagando US$ 250 milhões. Com essas operações, atingiu uma capacidade de moagem de 13,5 milhões de toneladas de cana e se tornou o sexto maior grupo do País.

"O Brasil tem ótimos ativos e a crise gerou uma oportunidade, porque algumas empresas locais se endividaram", disse Humberto Junqueira Farias, diretor-presidente da Renuka do Brasil. A companhia não descarta novas aquisições, mas é preciso criar sinergias com as operações que já foram adquiridas.

A empresa está produzindo o açúcar bruto no Brasil e refinando na Índia, para vender no país e clientes em toda a Ásia. A Renuka tem uma grande capacidade de refino na Índia, mas reconhece que a expansão da produção de cana em seu país de origem é muito restrita.

O sistema fundiário também prejudica as operações. A Renuka tem mais de 9 mil fornecedores de cana na Índia.