Título: 555 mortos
Autor: Werneck, Felipe; Sampaio, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2011, Metrópole, p. C1
Exército ajuda a enterrar dezenas de vítimas não reconhecidas
Usando máscaras cirúrgicas, militares do Exército ajudaram a sepultar na manhã de ontem cerca de 50 corpos ainda não reconhecidos na tragédia em Nova Friburgo no cemitério municipal Trilha do Céu, no bairro de Conselheiro Paulino. Carregados da quadra da escola de samba Unidos da Saudade, no centro, os primeiros caixões lotaram três caminhões de transporte de tropa. O comboio seguiu silenciosamente por ruas da cidade com uma escolta da Polícia Militar e faria uma nova viagem para buscar os outros caixões. Enquanto isso, o triste trabalho continuava ¿ funcionários da prefeitura já cavavam outras 200 covas rasas na Trilha do Céu.
Dos 50 corpos que foram levados para o cemitério, pelo menos três foram reconhecidos no local por parentes e enterrados em jazigos privados depois do velório. Os corpos ainda não reconhecidos foram identificados por impressões digitais e fotografias. Ainda na manhã de ontem, o governador do Rio, Sérgio Cabral, decretou luto oficial de sete dias pelas vítimas das chuvas na região serrana ¿ até ao meio-dia, a Secretaria do Estado de Saúde e Defesa Civil contabilizada 555 mortos e mais de 6 mil desabrigados.
Mais do que um infortúnio do clima, a tragédia da semana passada também começa a ser explicada melhor pelo despraparo do próprio País em lidar com desastres dessa magnitude. De acordo com um relatório oficial, o governo brasileiro admitiu à Organização das Nações Unidas (ONU) a precariedade dos órgãos para lidar com catástrofes. ¿A maioria dos órgãos que atuam em defesa civil está despreparada para o desempenho eficiente das atividades de prevenção e de preparação¿, afirma o documento de novembro de 2010 da Secretaria Nacional da Defesa Civil (Sedec).
Para se ter ideia da precariedade, um em cada quatro municípios do País sequer possui um serviço de defesa civil e, onde existe, não há como medir se são eficientes.
Os relatos de quem sobreviveu à tragédia ainda impressionam. São histórias de gente que perdeu a casa, parentes, amigos. Pessoas que agora têm de olhar para a frente e reconstruir aquilo que a chuva não conseguiu levar. ¿A experiência com aqueles sobreviventes é difícil de transmitir¿, conta Sérgio Bruni, vice-reitor da PUC-RJ, morador de Teresópolis. ¿Havia uma senhora de 80 anos no grupo, que perdeu filho, nora e neto, e caminhava estoicamente, em silêncio.¿