Título: A vitória do povo
Autor: NYT, REUTERS, AP e AFP
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2011, Internacional, p. A8

A rua venceu. O povo venceu. O ditador Ben Ali, que massacra, fere e sufoca a Tunísia há 23 anos, perdeu a partida. Não está mais em Túnis. Este homem arrogante, insensível, partiu sem grandeza nem coragem, caso a sua saída não seja um ardil, uma maneira de ganhar tempo para retomar as rédeas.

E assim se conclui uma queda de braço de uma violência fora do comum nesse país pacífico, tolerante, que é a Tunísia. Mas a paciência tem limites. E os pacíficos tunisianos mostraram durante alguns dias de rebelião uma coragem inaudita, que pagaram, infelizmente, com várias vidas.

O primeiro-ministro, considerado até pelos seus oponentes um homem íntegro e honesto, anunciou que assumiu o poder porque o presidente não podia mais continuar nas suas funções. Foi então que a inquietação se fez presente. Teoricamente, se Ben Ali tivesse renunciado, a presidência ficaria nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados. Ora, foi o premiê que assumiu. O que significa que Ben Ali, na verdade, não se demitiu do cargo e pode tentar voltar ao poder. Essa hipótese circulava em Túnis, mas parece improvável porque Ben Ali fugiu não apenas de toda a população, mas também do seu Exército.

E onde se encontra Ben Ali? Os rumores eram de que estava a caminho de Paris. No Palácio do Eliseu, silêncio absoluto. Ninguém diz nada. A França, há anos, mantém as melhores relações com o regime repulsivo de Ben Ali. Jamais exerceu a mínima pressão em favor da democracia no país. Mesmo durante os recentes distúrbios, a França manteve uma precaução incrível. Próxima da covardia.

O destino da Tunísia vacila. Para que direção esse país magnífico vai se orientar? Nada está ganho ainda. Tudo está em jogo.

A Tunísia pode se transformar numa ditadura militar. Ou ceder às maquinações das redes islâmicas. E pode, enfim, reencontrar o caminho da democracia. Sua maturidade, sua coragem, mostraram que ela tem capacidade para isso. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

É CORRESPONDENTE EM PARIS