Título: Para Battisti, Itália nada fará se Brasil recusar extradição
Autor: Stangler, Jair
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2011, Nacional, p. A4

Em entrevista a jornal, ex-ativista afirma que seu país "é um blefe" e que a mídia "faz de tudo" para apagar contexto histórico

ESTADÃO.COM.BR - O Estado de S.Paulo

O ex-ativista italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua pela justiça italiana e detido na prisão da Papuda, em Brasília, acha que a Itália não adotará retaliações nem fará coisa alguma contra o Brasil, caso este decida não extraditá-lo. "A Itália sempre foi um blefe. É ela que precisa do Brasil", afirmou em entrevista divulgada ontem pelo jornal Brasil de Fato. "O que a mídia passa é muita mentira. Na Itália tem muita gente que me defende", explicou. E arrematou: "Se acontecer algo comigo, Berlusconi terá de prestar conta."

Na conversa, em que falou de política italiana, de sua vida nos morros do Rio, de ideologia e da luta armada, Battisti se define como "um anarcocomunista desde sempre" . Aos 56 anos, acredita que "a revolução é eliminar as classes, mas não passa pelas armas, e sim pela educação". Parte da entrevista já foi divulgada no dia 21, quando circulou a avaliação que fez de sua libertação: "Me derrotar é derrotar o Lula".

Um de seus alvos na entrevista foi a mídia italiana, que segundo ele "faz de tudo para apagar o contexto histórico". Naqueles tempos, lembrou, "o movimento revolucionário italiano chegou a ter um milhão de pessoas".

"Escrivão dos morros". Ele narrou sua vida junto a moradores dos morros Santa Marta, Pavão, Cantagalo e outros, no Rio. "Subia o morro todos os dias. Sentava no boteco, tomava uma cervejinha e a dona do boteco tinha um filho preso. Ela era analfabeta e me pedia para ler as cartas do filho e também responder. Virei o escrivão dos morros". Enquanto aguarda uma decisão sobre seu futuro, no Supremo Tribunal Federal, ele faz um balanço dos anos 70: "Não posso dizer que a luta armada não é viável no mundo inteiro, mas no mundo que eu conheço não é mais."

Seus planos, se libertado, não são claros: "Não sei fazer outra coisa além de escrever e trabalhar com coletividades. Talvez não tenha o direito de fazer política mas vou fazer cultura."