Título: Fracasso de rebelião policial fortalece o governo de Correa, dizem analistas
Autor: Palácios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2010, Internacional, p. A8

Perto de completar quatro anos no poder, o presidente Rafael eorrea, segundo diversos analistas, saiu fortalecido da crise política causada na quinta-feira pela rebelião nacional das forças policiais que exigiam a preservação de aumentos salariais e outros privilégios, entre eles o sistema de condecorações.

Ontem, Correa, que tem mais de 60% de aprovação popular, afirmou pelo canal estatal 2 que não permitirá nova revolta. "Não conseguirão transformar o país em uma nova Honduras." Exibindo calma, Correa disse que "ninguém deve se enganar, o pretexto era uma sublevação alegando assuntos salariais. Mas por trás disso havia uma intenção de matar o presidente". "Se fracassasse a estratégia de desestabilizar o governo, o plano B era assassinar o presidente", afirmou Correa em uma entrevista à TV pública. Como prova dessa tentativa, lembrou a morte de um policial leal ao governo, atingido por um disparo, momentos depois de ser resgatado de um hospital onde os rebeldes o mantiveram presos por várias horas na quinta-feira. Segundo Mauro Cerbino,professor da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), o presidente saiu "fortalecido" da crise com relação à sua imagem e "protagonismo político". No entanto, considera que a rebelião policial é indício de "coisas graves" e, por este motivo, Correa terá de se empenhar para reverter o cenário de crise da semana passada. Outros analistas, na mesma sintonia, ressaltam que, apesar da vitória pessoal, a crise mostrou que o Equador pode ser o cenário de novas instabilidades institucionais que evidenciam a fraqueza da estrutura democrática. o cientista político Claudio Fantini, autor de Os Deuses da Guerra, afirmou que a atitude de Correa de enfrentar pessoalmente os policiais, sofrendo agressões e "seqüestro", teve o resultado positivo de "conjurar possíveis tentativas golpistas na cúpula militar no momento em que o país começava um caminho dramático de "uma guerra entre policias e militares". Fantini ressaltou que a atitude de Correa foi o contraponto da rebelião ocorrida em 1987, quando os militares sequestraram o então presidente León Febres Cordero. Na ocasião, os oficiais apontaram um revólver contra sua cabeça. Febres, choramingando, implorou que não o matassem. No entanto, o coronel da reserva Galo Monteverde, especialista em assuntos militares, questiona a atitude de Correa, argumentando que "o presidente quer aparecer como um caudilho heróico perante os meios de comunicação dentro e fora do país". Jantar. O clima de calma que tomou conta de Quito a partir da sexta-feira ficou evidente no jan- tar que o chanceler Ricardo Patino ofereceu a seus colegas da União das Nações Sul-americanas (Unasul) no Palácio Najas, sede da diplomacia em Quito. Ao longo do jantar (ao qual o Estado teve acesso) a rebelião policial e o cenário político ficaram em segundo plano, perdendo protagonismo para o relato de Patino sobre como havia sido agredido pelos policiais durante o conflito. No entanto,"a maior parte da noite a conversa foi centrada nas explicações do chanceler chileno,Alfredo Moreno, sobre as medidas para o resgate dos 33 mineiros presos na mina de Copiapó, a 700 metros de profundidade. O chanceler venezuelano, Nicolas Maduro, perguntava com especial interesse detalhes da história do mineiro que tinha duas mulheres: O vice-chanceler brasileiro, Antonio Patriota, não lançou nenhum tema de discussão na mesa do jantar dos chanceleres e vice-chanceleres da Unasul.