Título: América latina define metas para educação
Autor: Camargo, Paulo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2010, Vida, p. A20

Plano assinado por 22 países do continente prevê 9 metas gerias e 27 especificas para 2021, além da criação de um fundo de US$ 5 bilhões

Pela primeira vez na história, 22 países latino-americanos assinaram um pacto em favor da qualidade na educação. O documento Metas 2021 foi firmado no mês passado, em Buenos Aires, por ministros e representantes de ministérios da Educação e será ratificado na cúpula de chefes de Estado em dezembro, na Argentina. O documento foi costurado durante dois anos pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e prevê 9 metas gerais e 27 específicas, além da dotação de recursos e de um processo permanente de avaliação, que será coordenado pelo México. Segundo o presidente da OEI, Alvaro Marchesi, os ministros se comprometeram a investir cerca de 10% do total de seu orçamento anual para alcançar as metas conjuntas, o que totalizará US$ 104 bilhões. ¿Isso é dinheiro novo, cuja origem e destino cada governo vai decidir¿, afirmou.

O acordo definiu a criação do Fundo Solidário de Coesão, que deve chegar US$ 5 bilhões, destinado a apoiar os países mais carentes. Alimentado por doações voluntárias de governos, empresas e ONGs, o fundo nasce com duas contribuições importantes. O presidente do BBVA, Henrique Iglesias, anunciou US$ 520 milhões ¿ quantia semelhante será doada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Metas educacionais. As metas definidas atendem a demandas comuns que afligem os países em diversos níveis: da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação profissionalizante e o atendimento a portadores de necessidades especiais. Cada país definirá as estratégias para alcançar as metas, assim como as prioridades de investimento, já que há grande desigualdade regional. Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Brasil, André Lázaro, o plano tem um desenho inteligente e principalmente acerta ao respeitar a livre iniciativa dos países, pois está focado em resultados, não em processos. Em outras épocas, muitos projetos internacionais erraram ao focar os processos, intervindo no trabalho de cada governo¿, analisa Lázaro.Cada meta possui um indicador almejado. Assim, por exemplo, a terceira meta corresponde ao aumento da oferta de educação infantil. Os países da região devem elevar até 100% o atendimento educacional de crianças de 3 a 6 anos até 2021. Do mesmo modo, espera-se que o porcentual de formandos no ensino médio esteja entre 60% e 90% do total de alunos. Hoje, no Brasil, o índice está em torno de 50%. Os governos aceitaram ainda elevar o rendimento dos alunos nos exames internacionais, diminuindo em pelo menos 20% a proporção de estudantes situados nos níveis mais baixos de provas como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês). As metas também estabelecem objetivos no campo da formação de professores, do uso da tecnologia e da estruturação de sistemas de avaliação, entre outras áreas. O plano define, por exemplo,q eu até 2021 todas as escolas devem ter bibliotecas. Desafio. O desafio colocado pelas metas não será fácil nem para países como o Brasil. Segundo um estudo que acompanha o plano, embora haja uma tendência de elevação da cobertura escolar, a educação na América Latina é marcada pelo signo da desigualdade, diz o pesquisador chileno Juan Eduardo Garcia Huidobro. ¿Houve avanços na cobertura escolar, mas ela foi acompanhada pela desigualdade e uma crescente segregação¿, afirma, citando os altos índices de reprovação e abandono escolar.