Título: Bancos contratam pesquisas diárias para acompanhar pleito
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2010, Economia, p. B4

Instituições utilizam trackings para acompanhar a movimentação do dia a dia dos candidatos

O fato de o mercado financeiro ter se mantido calmo durante a campanha presidencial deste ano não significa que a tenha ignorado. O Estado apurou que alguns dos maiores bancos brasileiros e importantes investidores internacionais vêm acompanhando o humor do eleitorado dia a dia, por meio de pesquisas chamadas de trackings.

O foco, evidentemente, é a disputa pela Presidência, uma vez que é no governo federal que se definem as diretrizes econômicas do País. O Instituto Análise, do cientista político Alberto Carlos de Almeida, é um dos que fazem esse tipo de levantamento.

Ele confirma que tem vários clientes na área financeira, mas, por questões de contrato, não revela o nome dos contratantes. "Este ano, notamos enorme interesse de investidores estrangeiros pelo Brasil", conta.

Alguns desses investidores, diz Almeida, se cotizaram para receber pesquisas preparadas pelo instituto. Dividir a informação é uma forma de reduzir custos, pois esses levantamentos custam caro. Para se ter uma ideia, uma pesquisa eleitoral no Piauí (um dos Estados menos populosos do Brasil, com pouco mais de 3 milhões de habitantes) chega a custar quase R$ 40 mil.

Grandes bancos, no entanto, têm recursos suficientes para comprar seus próprios levantamentos. Um especialista explica que existem, sobretudo, duas intenções por trás do alto investimento. A primeira deles é definir as contribuições de campanha.

Em geral, diz esse profissional, as empresas (e os bancos não fogem à regra) preferem doar dinheiro para os candidatos que estão na frente nos levantamentos. É por isso que, normalmente, a prestação de contas da campanha mostra o candidato vencedor com mais recursos do que os adversários.

Em busca do lucro. A outra razão está relacionada à própria atividade da instituição financeira. Ou seja, procurar se antecipar à concorrência para obter lucros. Um exemplo prático: se o tracking identifica que um candidato mais propenso a fazer reformas econômicas assume a liderança das pesquisas, as mesas dos bancos passam a operar apostando em que o País vai acelerar seu crescimento.

Na avaliação de 10 entre 10 economistas do setor financeiro, as reformas estruturais (tributária, previdenciária e trabalhista) removeriam vários obstáculos à expansão brasileira.

Nesse cenário, os bancos que têm tal informação podem comprar ações de empresas que tendem a beneficiar-se mais do ritmo maior de crescimento. No mercado de câmbio, podem apostar em mais valorização do real, fruto da crença de que mais investidores internacionais aplicariam recursos no País.