Título: Petrobras passará por reforma administrativa
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2010, Economia, p. B7

Capitalizada e orientada por um novo governo, estatal deve criar cargos de vice-presidentes; começa a especulação sobre os próximos diretores

O ano de 2011 poderá marcar uma nova fase para a Petrobrás. Turbinada financeiramente pelo maior processo de capitalização da história, a estatal se prepara para passar também por uma remodelagem organizacional, que coincidirá com o primeiro ano do próximo governo.

A "nova Petrobrás" terá uma gestão mais próxima à de seus pares internacionais e as mudanças não ficarão restritas à troca de nomes no primeiro escalão da companhia. De acordo com fontes do setor ouvidas pela Agência Estado, o que está em estudo é uma transformação de sua estrutura administrativa.

O projeto, que ainda está sendo discutido, prevê a criação de cargos de vice-presidentes, com autonomia maior na tomada de decisões. Uma das propostas que vem ganhando força é a de dois vice-presidentes, que fariam a ponte entre a diretoria e o presidente da empresa. A nova estrutura atenderia à necessidade de a Petrobrás se adequar ao seu tamanho atual.

A última alteração da estrutura organizacional ocorreu em 2001, sob motivação diversa: a de compartimentar a empresa. Hoje, com as perspectivas do pré-sal, a companhia cresceu em relação ao que era naquela época.

Em 2001, o valor de mercado do grupo girava em torno de US$ 25 bilhões, pouco mais de um décimo dos atuais US$ 215 bilhões. O então presidente Philippe Reichstul, escolhido na gestão de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, dividiu a empresa em unidades de negócios autônomas. Algumas pessoas enxergaram nisso a preparação para uma futura privatização das áreas separadamente. O PSDB sempre negou essa intenção.

Já o novo modelo visa dar mais liberdade ao presidente, deixando-o mais ligado aos assuntos estratégicos e menos ao cotidiano. Os dois vice-presidentes cuidariam de áreas distintas. Um ficaria com a parte operacional e outro com a corporativa. A esse último caberiam os setores de Comunicação Social, Jurídico, Recursos Humanos e Novos Negócios, que hoje são subordinados diretamente à presidência.

O vice-presidente operacional ficaria mais ligado à gestão de áreas como exploração e produção, refino, gás, petroquímica e distribuição. "Hoje, quando há uma divergência na diretoria, o assunto fica travado até que o presidente decida. Isso pode levar meses, porque ele geralmente está afastado do cotidiano para cuidar de assuntos mais estratégicos da companhia", comentou uma fonte do setor.

No novo modelo previsto para a Petrobrás - que deverá ser aprofundado no período de transição do novo governo, caso se confirme a eleição de Dilma Rousseff - também ganhariam mais força e autonomia as gerências executivas, cargos que teriam status de diretoria. Mesmo sem uma mudança sacramentada, isso já ocorre na prática. Um exemplo é a gerência do pré-sal, cargo criado especificamente para coordenar as novas reservas do pré-sal.

Nomes. As especulações em torno de novos nomes para o comando da Petrobrás, hoje, giram em torno das possíveis da favorita nas pesquisas de intenção de voto - Dilma. Até agora, os mais cotados para a presidência ou as novas vice-presidências são a diretora de Gás e Energia da estatal, Graça Foster, principal aliada de Dilma no Ministério de Minas e Energia, e o diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, ligado ao PP.

Apesar de muito propalada a possibilidade de Graça ser levada por Dilma para um cargo em Brasília, possivelmente a pasta de Minas e Energia, fontes lembram que a vaga já é da cota do PMDB durante a gestão Lula e assim deve permanecer, com fortes perspectivas de ser retomada pelo senador Edison Lobão, já que o atual ministro Márcio Zimmermann é um dos cotados para a presidência da Eletrobrás.

Ao contrário da Eletrobrás, no entanto, a presidência da Petrobrás nunca foi passada para outro partido que não o PT. No caso do novo modelo, os mais citados para ocupar o cargo seriam o ex-presidente da companhia e atual presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. COLABOROU IRANY TEREZA