Título: Diplomata leva recado dos EUA ao Cairo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2011, Internacional, p. A20-22

Ex-embaixador sugerirá a egípcios que adotem reformas políticas e econômicas

O embaixador americano no Egito Frank Wisner está no Cairo para transmitir ao regime egípcio a mensagem de que deve se comprometer com as reformas políticas, econômicas e sociais necessárias, informou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs - que não deu detalhes sobre a agenda do diplomata ou com quais membros do governo de Hosni Mubarak ele se reunirá.

"Ele é um cidadão privado, um diplomata aposentado e ex-embaixador no país (de 1986 a 1991)", disse Gibbs. "Conhece alguns atores-chave no governo e pensamos que será útil para todas as partes se ele tiver a oportunidade de interagir com membros da sociedade egípcia." Gibbs não deixou claro se Wisner viaja como enviado do governo. Washington tenta nos últimos dias livrar-se das críticas pela posição dúbia em relação às manifestações no Egito - os EUA defendem uma "transição ordenada para a democracia", sem pedir a saída formal de Mubarak.

"A determinação sobre quando e como as mudanças deveriam ser realizadas não podem ser ditadas por outros países. Por que os EUA determinariam o que deve ocorrer no Egito?", questionou Gibbs. Outras autoridades do governo americano tem dado declarações no mesmo sentido, incluindo o presidente Barack Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton.

"Caso Obama distancie os EUA de Mubarak, pode haver um tsunami de instabilidade que afetaria todos pilares de todas as alianças com outras autocracias árabes na região. Se ele não tomar essa distância, o americano pode alienar a população egípcia, abrindo caminho para um regime teocrático fundamentalmente antiamericano", escreveu em análise Martin Indyk, ex-embaixador dos EUA em Israel e hoje no Brookings Institute.

Marina Ottaway, do Carnegie Endowment, também foi direta ao pedir em artigo que Obama abandone o Egito. "Os interesses americanos no longo prazo teriam mais benefícios se Obama apoiasse o processo democrático", afirmou.

Consultorias de risco político afirmam que a estratégia americana é observar como evoluem os acontecimentos com o objetivo de que, no médio prazo, haja uma democratização sem o risco de organizações hostis aos EUA, como a Irmandade Muçulmana, assumirem um vácuo de poder. Neste sentido, o melhor dos cenários para os americanos seria uma transição democrática coordenada pelas Forças Armadas, mas sem Mubarak.

"O cenário mais provável é o de Mubarak ser removido e alguma outra autoridade militar assumir em seu lugar depois de um intervalo e estabilizar a situação", acrescenta George Fridman, da consultoria Stratfor. "O processo precisa ser cauteloso para evitar danos à imagem do Exército", disse à CNN Fawaz Gerges, da London School of Economics.